Contradições do tecno-capitalismo
Mesmo após anos e anos de desenvolvimento tecnológico quase não vemos propostas de redução da carga horário dos trabalhadores, muito pelo contrário, trabalhamos cada vez mais e essa é apenas uma das contradições do tecno-capitalismo.
Me refiro ao tecno-capitalismo numa conjuntura teórica do capitalismo focado nas tecnologias que permeiam nossa história e sociedade desde a antiguidade.
Gostaria de saber se vocês conseguem reconhecer essas contradições nos meios que vocês estão inseridos e conseguem exemplificar, além de claro propor apenas uma reflexão acerca do tema
Confesso que fiquei um pouco confuso com o termo "tecno-capitalismo", porém sem querer politizar demais mas já politizando um pouco: Qualquer termo ou área que esteja ligada e com intenção de manter e fortalecer o capitalismo, nunca trará como opção uma redução da jornada de trabalho de forma amigável, mesmo que na prática existam profissionais cumprindo todas as suas atividades em apenas 2 horas (e de fato existam empresas testando a semana de 4 dias), nunca vai ser interessante para um modelo de dominação como o capitalismo que o trabalhador tenha mais tempo para se educar, abrir seu próprio negócio e se tornar um competidor ou até mesmo para "revolucionar" contra ele lutando pela sua própria qualidade de vida. Vide o discurso de "se reduzir a jornada de trabalho as empresas vão quebrar", ou voltando algumas décadas: "se acabar o trabalho infantil as empresas vão quebrar", "se pagar décimo terceiro as empresas vão quebrar", "com férias remuneradas as empersas vão quebrar", "se der licença maternidade as empresas vão quebrar". Qualquer evolução que melhore a vida do trabalhador, principalmente em função científica ou social eu acredito que será mal vista pelo modelo capitalista de forma generalista pois estará ameaçando as pessoas que realmente têm poder. Recomendo um pouco sobre o "capitalismo tardio", onde estamos produzindo cada vez mais e a parte consumidora está tendo cada vez menos poder de compra devido concentração de riqueza, tornando o modelo cada dia mais insustentável.
Acho importante trazer dados. Uma breve pesquisa no Google me levou a um artigo no Wikipedia sobre Jornada de trabalho. Pode não ser uma referência excelente, mas ele traz dados de que a jornada de trabalho diminuiu com o avanço da tecnologia:
Com a revolução industrial veio um aumento do tempo de trabalho durante o ano, entre outros fatores pela iluminação artificial e o êxodo rural. Nos Estados Unidos, a jornada média era de 70 horas semanais ao fim do século XVIII, de 60 horas ao fim do século XIX, e de 50 horas no início do século XX. Em 1926, a Ford e outras empresas adotavam uma jornada de 40 horas. Em 1938, o presidente Franklin Roosevelt sancionou uma lei estipulando uma jornada máxima de 40 horas, sendo a média à época de 42 a 27 horas de acordo com o setor. No século XXI, na França a jornada é de 35 horas. No Brasil, a jornada de trabalho é regulamentada na constituição de 88 e pela CLT, sendo o limite normal 8 horas diárias, correspondentes a 44 horas semanais.
Jogos digitais e softwares são produtos filhos do capitalismo.
Mas jogos e software são feitos por pessoas e para pessoas.
Nesse cenário, se você é a pessoa que lucra com eles, provavelmente nunca verá contradições.
Porém, se você é a pessoa que precisa programar para sustentar sua família e se vê em uma relação de dependência, sabendo que não pode ficar sem trabalhar pelo resto da vida, daí as contradições são tão claras que dói.
Esperar redução de jornada de trabalho derivado de avanços tecnológicos é ignorar outros aspectos fundamentais do capitalismo.
Provavelmente o CEO certamente trabalhará cada vez menos com o avanço das tecnologias. Porém, aquele que, se ficar sem trabalhar/ganhar dinheiro/fonte de renda um mês, dois, ou até um ano ou mais e falir, certamente será cada vez mais explorado pelos detentores dos meios de produção, donos de "unicórnios" e big-techs.
O capitalista quer lucrar. Se a tecnologia te faz um dev mais produtivo, isso vai trazer mais lucro. A questão é: lucro pra quem?
Se tu gosta de vídeos, recomendo o canal Teclas - Tecnologia e Classe do pessoal da Soberana.
Se tu é um dev inconformado com a precarização da indústria, cadastre-se na coopera.dev.br e participe da construção de ações revolucionárias.
Aos meus queridos devs camaradas, uní-vos!
Venceremos.
Estamos andando na contramão há décadas. Os governos tomam medidas que destroem as riquezas. Portanto o nosso sistema de mercado está patinando. O lockdown por exemplo ( sem discutir o mérito ) foi uma medida que "atrasou" a economia em pelo menos 10 anos. Não há mais capital disponível no planeta, todos os países endividados até a tampa.
Amigo acho que a sua crítica está endereçada para o sistema errado. O grande vilão da nossa sociedade é o corporativismo, que não tem NADA a ver com capitalismo.
Abraço!
O que chamamos aqui de "tecnocapitalismo" é uma cultura
Mais do que sistema, o "tecno-capitalismo" é uma cultura. É uma forma de pensar que permeia a sociedade e um conjunto de práticas consolidadas no mercado.
Se é uma cultura, podemos mudá-la
Podemos abrir nossos empreendimentos com uma mentalidade melhor. Podemos conversar com nossos chefes (e se a empresa em que trabalhamos não é aberta a uma conversa com o empregado, o melhor é se esforçar para encontrar um emprego melhor).
O que eu percebo é que a tendência geral é a melhora.
Uma empresa que não gera valor para o cliente está fadada ao fracasso, isso é óbvio. Mas se ela não gerar valor para o empregado, corre o mesmo risco.
No mercado de TI isso é ainda mais evidente. O bom profissional, aquele que a empresa quer reter, precisa estar bem no seu emprego, porque a facilidade para obter um novo emprego é muito grande.
O problema é que as empresas brasileiras são, na média, ruins.
O que a gente pode fazer é se esforçar para criar "um pedaço melhor de mundo", da mesma forma que estamos buscando fazer um pedaço melhor de internet aqui. Quem sabe isso não cause uma revolução no trabalho, aqui no Brasil?
Achei esta esta definição na na internet:
Luis Suarez-Villa, em seu livro de 2009 Technocapitalism: A Critical Perspective on Technological Innovation and Corporatism, argumenta que o tecnocapitalismo é uma nova versão do capitalismo que gera novas formas de organização empresarial projetadas para explorar a criatividade e novos conhecimentos. Esta abordagem é desenvolvida por Suarez-Villa em seu livro de 2012 livro Technocapitalism: The Political Economy of Corporate Power and Technological Domination, no qual ele relata o surgimento do tecnocapitalismo à globalização e ao crescente poder das corporações technocapitalistas.
O significado por trás do conceito é parte de uma linha de pensamento que relaciona ciência e tecnologia para a evolução do capitalismo. No cerne desta ideia de evolução do capitalismo é que a ciência e a tecnologia não são separadas da sociedade, ou estão fora do alcance de ação social e de decisão humana. O setor de ciência e tecnologia é parte da sociedade humana e está sujeito às prioridades do capitalismo, tanto quanto qualquer outra atividade humana, se não mais. Cientistas proeminentes no início do século XX, como John Bernal, postularam que a ciência tem uma função social e não pode ser vista como algo à parte da sociedade.
Eu já havia escutado o termo em algum momento no passado, achei interessante ler sobre.
"Você não terá nada e será feliz."
Klaus Schwab Great Reset
Ao longo do tempo tenho me atentado para onde "estamos" indo, a tecnologia de fato avançou e trouxe muitas facilidades para todos!
Infelizmente poucos se aproveitam da grande maioria, independentemente da sua posição política (capitalista, socialista, comunista, anarquista, imperialista) tudo depende de pessoas, e o problema do mundo são as pessoas! Todo modelo de gestão em sua teoria é bonito, porém na prática o que vemos são pessoas ruins, invejosas, mentirosas, inescrupulosas, demagogas que mentem, enganam para tirar proveito!
Caminhamos para um abismo sem precedente!
Hoje vivemos a mercer dos tecnocratas, estes por sua vez estão em conluio com os governantes que por sua vez com a mídia (ciclo vicioso)! Digo isto com eufemismo para não falar o “bom português”
(O objetivo é se dar bem custe o que custar e quem custar!).
Tudo o que acontece na geopolítica faz parte do jogo. Com o advento da internet, rapidamente migramos nossas vidas para o digital. Hoje não assistimos filmes, ouvimos música, conversamos, estudamos, jogamos, compramos, pagamos contas sem internet. Isto é bom até um certo ponto, que é, quem é o dono disso tudo? Se olharmos para o mapa das holdings mundiais percebemos que praticamente tudo está nas mãos de poucos!
Com relação à governos, independente do viés ideológico sempre caminharemos para o globalismo (para o fim), e sem entrar em questões escatológicas ou teorias da conspiração, o fato é, somos forçados a utilizar o “sistema” e quem não obedecer às regras é cerceado, vemos o modelo de gestão ideal sendo testado na China. Em breve outras partes do mundo, a exemplo, o lockdown e a imposição por parte das empresas obrigando seus funcionários a tomarem as vacinas para retornarem a suas funções presencialmente (sem entrar no mérito de eficácia).
Onde trabalho, fomos obrigados, e quem não tomou foi sumariamente demitido, independente do excelente trabalho desempenhado.
Já abri demais a minha explanação, o problema é que um ponto vai puxando o outro e sucessivamente, quando percebemos, estamos em um emaranhado de dilemas que fica difícil de entender onde começou e para onde vai.
Carga horária trabalhada e o excesso dela é um problema de gestão, não de tecnologia em si, problema de produtividade, de como achamos que produzimos melhor, de achar que trabalhar mais tempo por exemplo = produzir mais. Não existe contradição (nisso especificamente) no "tecno-capitalismo".
Relações de trabalho mediadas por tecnologias digititais seria mais apropriado.
Eu não conheço o termo tecno-capitalismo, mas acho que sei o que você quer dizer. Todos temos que ter em mente que o capitalismo ao qual estamos inseridos não está livre de regulações, e que estamos ainda trabalhando 8 horas por dia por conta da regulação estatal que determina isso como uma jornada de trabalho. Podemos observar tal ponto quando olhamos para países mais desenvolvidos, especialmente na Europa, que são mais capitalistas que o Brasil. O trabalhador de tais regiões, tende a trabalhar muito menos do que em locais como aqui, pois o poder de compra de lá é muito maior que o nosso, e portanto, o necessário para viver é alcançado com muito menos esforço. Já que os impostos são mais simplificados e a regulação sobre as empresas são menores. O capitalismo não é um regime de dominação, mas sim um modelo de trocas voluntárias, ou seja, algo natural. Não há dominação quando há contratos voluntários entre ambas as partes, e se você aceitar tal requisição com base em um acordo, você teve total controle sobre isso, caso se arrependa, basta cumprir a rescisão do contrato.
Eu poderia trabalhar menos se quisesse mas por enquanto não vou..
As inovações feitas no sistema capitalista não servem para emancipar a classe trabalhadora, mas sim para aumentar o capital. Quando se ouve falar de carros autonomos, mercado sem atendentes, IA que programa/cria arte e etc. O que causa é medo na classe trabalhadora de ela perder sua forma de sustento. Por isso só vejo alteranativa com a mudança na forma de produção que deve servir para o bem da classe que produz a riquiza e ela só vem numa pespectiva revolucionária.
Com relação a trabalharmos mais, na minha percepção, a pandemia e o início do home-office para muitas funções de office e ligadas a tecnologia trouxeram, de alguma forma, um entendimento de que os profissionais podem ser medidos pelos resultados ao invés de exigir horas presenciais, principalmente aqueles que são de maior valor (escassez / qualidade).
Com relação ao capitalismo fazer trabalhar mais, eu entendo que o capitalismo permite que você trabalhe e ganhe retornos do seu trabalho, e quando você está numa posição assim, entendo que você queira trabalhar bastante pra gerar bastante valor e receber mais.
Quanto a crítica política ao capitalismo e a quantidade de trabalho exigida, acredito que basta o simples reconhecimento de que no modelo "capitalismo", você não é obrigado a nada. Se a quantidade/qualidade do serviço que te é oferecido executar não te agrada, você tem o direito de sair.
Antes isso do que a inteligência artificial do governo definir com o que você vai trabalhar, né?!
A tecnologia tem produzido tantas inovações, produtos, métodos, soluções, etc e de maneira tão rápida que as sociedades mal tem tempo de se acomodar e entender esses impactos. Por vezes as tentativas de acomodação ou direcionamento de governos e entidades reguladoras são atropeladas por este combo de inovação e criatividade. Eu penso que seria mais (ou pelo menos não deixar de priorizar) benéfico pensar na constante adaptação dos trabalhadores a esses novos paradigmas e assim se beneficiar das vantagens de estar a frente dos processos do que pensar em concentração de riqueza. A melhor forma de distribuir riqueza é ampliar as capacidades dos trabalhadores de produzirem e se adaptarem. Talvez não sirva para os profissionais de mais idade, mas os profissionais mais novos que tem bastante caminho pela frente devem colocar como objetivo a ser constantemente buscado. Coloco a questão nestes termos é devido a competição de mercado, se você não se propõe a essa busca sempre haverá profissionais nos diferentes locais do mundo em busca de ocupar as posições vagas. E sabemos que boas vagas são limitadas e não ficam desocupadas.
Eu acredito que a tecnologia não acaba com empregos, apenas muda eles de lugar, porém, se esse ganho de produtividade não for acompanhado proporcionalmente com a melhoria/manutenção da qualidade de vida da classe trabalhadora, esses "novos empregos" não serão gerados em quantidade suficiente, ocasionando o aumento da pobreza e da concentração de renda, que é exatamente a nossa realidade.
Milton Santos, grande geógrafo brasileiro, chama essa nossa era de meio técnico-científico-informacional. A atual fase do capitalismo utiliza do meio técnico-científico-informacional para gerar a mais valia necessária para o acúmulo de capital. Logicamente que o setor de tecnologia/programção é um dos primeiros a sofrer os efeitos (positivos e negativos) do capitalismo. Quanto à jornada de trabalho, sempre crescente, é facilmente explicado pela mais valia. O capitalismo enrriquece se apoderando do excedente de produção realizado pelo trabalhador. Se a empresa paga R$ 5.000,00 para o empregado por uma jornada de trabalho de 40h semanais, é porque ele produz bem mais do que o valor de seu salário. Assim, quanto maior o tempo de trabalho mais valia a empresa se apropia, sem a necessidade de reajustar o salário do empregado. Muitos profissionais só percebem isso na pele, pois ignoram disciplinas da área da formação humana (filosifia, sociologia e outras que geram softskills importantes) se deticando apenas aos conhecimentos técnicos. Acabam por si tornarem profissionais alienados volutariamente. Sou formado em agronomia e em licenciatura em geografia, foi nesta última que aprendi a ler o mundo (como diria nosso patrono da educação Paulo Freire). Estou fazendo minha 3ª graduação (engenharia de software) e vejo os colegas ignorarem as disciplinas de humanidades. Serão os profissionais perfeitos para o mercado de trabalho, porém infelizes e limitados.