Os maiores salários do Brasil para engenheiros de software

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Nesse final de semana, fiz um script em Python para analisar os dados de salário disponíveis no levels.fyi.

Peguei todos os dados de salários divulgados no Brasil. Vocês podem acessar o CSV por aqui.

Além disso, vamos introduzir o conceito dos diferentes tiers de empresas com relação a compensação. Algo que eu aprendi com num artigo do The Pragmatic Engineer.

✨ O que esperar do artigo

  • Porque algumas empresas nunca vão pagar mais que as outras
  • Quais os maiores salários do Brasil de acordo com o Levels.fyi
  • O projeto que fiz para pegar estes dados

Por que existe tanta diferença entre salários de empresas

Se olharmos o salário médio do estado de São Paulo na Pesquisa Salarial de Programadores Brasileiros 2024, veremos que é de R$9.321,97.

SP é o estado com o maior custo de vida do país, então faz sentido.

O último da lista é o Amapá, com o valor de R$5.400,40.

Agora, se olharmos a média salárial no levels.fyi, ela é de R$19.381,52.

Por que existe essa diferença tão grande?

Primeiramente, a pesquisa salarial possui muitos mais pontos de dados. Foram 15.049 profissionais respondendo, com dados atualizados em 2024.

Isso quer dizer que mais perfis de empresas foram incluídos.

O que nos leva à minha próxima hipótese: o levels.fyi provavelmente tem uma tendência de ter salários mais altos, dada sua origem.

Ele foi inicialmente divulgado na rede social anônima Blind. Que é conhecido por ser frequentado por trabalhadores de big techs (FAANG e etc).

Por isso, eu acredito que a maior parte das contribuições salariais são de pessoas que:

  1. Falam inglês, pois é um site sem tradução.
  2. Trabalham em empresas maiores, pois há poucas empresas anônimas.
  3. E as empresas são tier 2 ou acima (mais sobre isso na próxima seção).

Essa é a minha hipótese desta diferença grande. Imagino que os usuários brasileiros do levels.fyi devem ter uma tendência de estarem em empresas que pagam mais, devido a esses fatores.

Isso a parte, indico todo mundo compartilhar sua compensação por lá. É anônimo, e a interface é mil vez melhor do que qualquer alternativa.

Tier List das Empresas

Essa ideia não é minha. Todos os créditos vão para o Gergely Orosz, autor do The Pragmatic Engineer.

Mas, desde que eu há conheci, percebi como ela não se aplica apenas a Europa e América do Norte. Mas assim como pra nós no Brasil também.

A natureza "trimodal" dos salários de engenheiros de software.

Vejamos os três tiers:

  1. Tier 1: Empresas que competem localmente. Exemplo: startups regionais.

  2. Tier 2: Empresas que competem nacionalmente. Exemplo: grandes empresas brasileiras de tecnologia.

  3. Tier 3: Empresas que competem globalmente. Exemplo: big techs internacionais.

A maioria das pessoas trabalha em empresas Tier 1. É por isso que temos mais dados salariais delas, mesmo no levels.fyi.

Existem muito mais pessoas trabalhando em empresas Tier 1. E é por isso que é delas que temos mais informações de salário, mesmo no levels.fyi.

Vejam como esse gráfico tem uma forma semelhante, que fiz a partir dos dados que coletei:

Distribuição de compensação para os salários submetidos por brasileiros no levels.fyi.

A maior parte dos salários está no primeiro range, até por volta de R$200 mil.

Depois, ainda temos um número considerável entre R$200 e R$450mil.

Após isso, a frequência diminui ainda mais.

Na próxima vez que você estiver procurando por um emprego, tente pensar em qual tier a empresa se encontra. Mesmo que não ajam informações públicas sobre o salário da empresa, é possível ao menos ter uma estimativa ao pensar nessa conclusão.

Assim, você pode olhar empresas parecidas e tentar entender qual benchmark esse tipo de empresa vai usar.

Vagas em empresas Tier 2 e Tier 3 são, naturalmente, mais competitivas. Costumam ser empresas conhecidas (ou estrangeiras), e a boa perspectiva de crescimento e salário atrai a todos.

Fiz uma definição simples nos dados:

  1. Tier 1: pagam até o percentil 70.
  2. Tier 2: entre os percentis 70-90.
  3. Tier 3: pagam acima do percentil 90.

Percentil é um valor que divide um conjunto de dados em cem partes iguais. Ele indica a posição relativa de um dado dentro da distribuição. Por exemplo, se você está no 80º percentil de altura, isso significa que você é mais alto que 80% das pessoas no grupo.

Distribuição de renda agrupado pelos diferentes tiers.

Veja que, na média, os salários de empresas Tier 3 são maiores.

Mas, isso não quer dizer que não é possível ganhar bem em outras empresas. Temos também vários outliers que tem alta renda em todos os outros tiers.

Quais os maiores salários do Brasil para engenheiros de software

Sabemos que o levels.fyi tem essa tendência para empresas que pagam mais.

Porém, podemos usar isso em nossa vantagem. E assim descobrir quais salários podem ser possíveis de serem negociados no mercado.

Tabela de salários agrupado por anos de experiência.

Note o salto significativo nos salários entre as faixas de 0-3 anos e 4-7 anos de experiência. Isso pode ser porque, após os primeiros anos de experiência, a chance de se conseguir uma vaga na gringa é maior.

Podemos ver que, o que mais paga, é ter mais experiência. 😂

Mas, não é uma correlação perfeita.

Correlation (Years of Experience vs Total Compensation): 0.43

O número 0,43 mostra uma relação positiva entre experiência e salário. Significa que mais experiência geralmente leva a salários maiores, mas não é o único fator importante.

Essa é a tabela geral, sem dividir por níveis:

Estatísticas gerais de todos os salários submetidos.

E, por fim, queria compartilhar também as empresas com maiores salários divididos por anos de experiência:

0-3 years:
  Google: 22.917,36 R$
  Uber: 20.322,39 R$
  Amazon: 17.413,35 R$
  Nubank: 14.907,24 R$
  iFood: 13.488,33 R$
  luizalabs: 12.922,22 R$
  Mercado Libre: 12.759,17 R$
  Quinto Andar: 12.100,00 R$
  Cadence Design Sy...: 11.737,08 R$
  NTT DATA: 10.755,56 R$

4-7 years:
  Brex: 57.341,65 R$
  Harness: 44.418,31 R$
  Uber: 37.873,24 R$
  Hinge Health: 36.725,40 R$
  Jungle Scout: 35.923,11 R$
  AgileEngine: 35.681,86 R$
  Turing: 33.860,25 R$
  Loadsmart: 33.438,68 R$
  Google: 31.357,40 R$
  Goldman Sachs: 30.000,00 R$

8-12 years:
  Google: 52.334,52 R$
  Loadsmart: 37.627,42 R$
  Amazon: 34.791,67 R$
  Hotel Engine: 30.512,33 R$
  Nubank: 29.708,76 R$
  C6 Bank: 25.312,50 R$
  BairesDev: 24.510,83 R$
  iFood: 21.723,99 R$
  Anonymous: 21.301,24 R$
  Mercado Libre: 20.742,42 R$

13+ years:
  Nubank: 53.486,00 R$
  Microsoft: 43.432,33 R$
  Amazon: 36.659,47 R$
  Mercado Libre: 17.940,42 R$

Existem mais dados que omiti aqui do artigo por brevidade. Acesse o notebook completo aqui.

O projeto que eu fiz para pegar esses dados

Esse foi um projeto de final de semana que fiz com ajuda do Cursor. É incrível como ferramentas de AI podem nos ajudar a fazer esses projetos pequenos e de escopo limitado.

Todo o código está open-source aqui.

Tem as instruções para re-rodar e pegar os dados novamente, se necessário. Como eu não inclui o csv (está no .gitignore), vocês podem baixar os dados que usei aqui.

Não trabalho com dados, mas já fiz algumas aulas de estatística e probabilidade aqui e ali. Então tentei prover os dados que seriam mais úteis.

Quem tiver mais experiência, sinta-se a vontade pra melhorar este código!

🌟 Resumo

  • Diferenças salariais entre pesquisas se devem a variações na amostragem e no perfil das empresas
  • Empresas podem ser categorizadas em 3 tiers baseados em sua competitividade salarial:
    • Tier 1: Competem regionalmente
    • Tier 2: Competem nacionalmente
    • Tier 3: Competem globalmente
  • Para ver a análise dos dados de salário do levels.fyi, acesse esse notebook.
  • Todo o projeto está com o código open-source aqui.

Este estudo revela padrões importantes nos salários de engenheiros de software no Brasil. Mostra como a experiência e o tipo de empresa influenciam a remuneração.

Para profissionais, esses dados podem guiar decisões de carreira.

Para empresas, ajudam a entender o mercado competitivo de talentos em tecnologia.

Lembre-se: estes dados são um ponto de partida. Fatores individuais e negociação sempre desempenham um papel crucial na determinação de salários.

E, para terminar com uma opinião pessoal: o salário não é tudo. Já falamos sobre as algemas de ouro no passado. Procure um lugar que te dê um ambiente que favoreça o aprendizado. Onde você trabalhe em problemas que acha interessante.

E, é claro, num lugar que te valorize e pague bem. Afinal de contas, todos precisamos de dinheiro, saúde mental e financeira.

Desculpem pelo atraso com o artigo da semana passada. Acho que fiquei tentando polir o código demais. Quem nunca. 😅


Esse artigo foi publicado na minha newsletter, Dev na Gringa.

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Excelente, apenas uma pequena correção: mais pessoas tendem a trabalhar para empresas de Tier 3 simplesmente porque elas empregam um número muito maior de funcionários em comparação com empresas de Tier 1 e Tier 2. As empresas de Tier 3 costumam ter dezenas de milhares de coloboradores!!

Concordo, Tier 3 empregam muita gente! Mas, acho difícil de acreditar que a soma de todos os engenheiros de Tier 3 > Tier 1, ou mesmo que Tier 2. Porque menos empresas Tier 3 existem. [Aqui no post original do Gergely](https://blog.pragmaticengineer.com/software-engineering-salaries-in-the-netherlands-and-europe/) sobre esse modelo, ele diz que as Tier 1 são as que tem maiores posições disponíveis. Não encontrei de onde veio o dado, no entanto. Talvez seja diferente para países desenvolvidos? Imagino que lá na Europa tenha muito mais trabalhos para engenheiros de software do que aqui no Brasil, dado nossa economia que é mais focada no agronegócio.
Eu me lembro de ter visto dados opostos, e foi por isso que fiz a correção, mas de fato também não tenho o dado exato. De forma anedótica, observando o pessoal que estudou comigo, a grande maioria trabalha em grandes empresas no mínimo Tier 2. Algo que me chamou muita atenção foi quando circulou aquela pesquisa das piores empresas para se trabalhar — a grande maioria era de empresas Tier 2 ou 3. Talvez aqui no Brasil essa percepção seja diferente, porque as nossas grandes empresas são apenas Tier 2 e não competem em escala global. Talvez essa seja a diferença em relação aos países desenvolvidos. O iFood, Nubank e Globo são ótimos exemplos: empresas gigantes e consolidadas, mas que existem apenas no Brasil. Ainda assim, eu as colocaria no Tier 3 em nosso contexto. Eu dei uma olhada por alto no notebook e não sei se a análise de mensurar os tiers por salário faz muito sentido ou condiz com a realidade. Na verdade, essa distinção de tiers é meio torta demais. Às vezes, uma startup com 10 pessoas compete globalmente, enquanto uma empresa com 500+ atua apenas localmente. Os dados que vi estavam mais relacionados ao tamanho da empresa, medido em receita e número de funcionários, do que por essa escala de tiers. Outro ponto, que também não tenho dados específicos, mas vejo na minha experiência pessoal e profissional, é que às vezes é possível, e até mais real, ter salários indecessantes trabalhando para empresas que não têm lucro e vivem de investidores, do que em uma indústria que emprega milhares de pessoas. E sim, muitas empresas gigantes pagam mal e pouco, e podem fazer isso justamente por causa do nome que carregam. É um sistema complexo, onde nem sempre tamanho e fama garantem bons salários ou boas condições de trabalho. Da mesma forma, trabalhar em uma "tier 3" não é sinônimo de sucesso ou ser um gênio. Tem muita gente medíocre. A maioria é, por definição. Às vezes, existe essa visão errada de que empresas Tier 3 são inatingíveis ou financeiramente instáveis, mas isso é um mito. Elas estão aí, contratando milhares de pessoas todos os anos!

Trabalho excelente. E deixou claro uma tendência que eu havia reparado sobre a Cadence Design Systems. Eu tenho muitos amigos que trabalham lá, e com isso sei que o salário inicial é muito bom, mas fica estagnado rapidamente. E dá pra notar isso com seu projeto, onde a empresa só aparece na lista de 0 a 3 anos de experiência.