Não sou programador, estudo dependência digital. Posso entrar?

Olá pessoal, não sou programador. Sou professor de educação física com ênfase no desenvolvimento infantil, desde 2017 estudo sobre "dependência digital em mídias interativas" (vício no uso de videogames/celulares/tablets), resolvi iniciar os estudos depois de perceber diversas crianças na escola com olheira e grande cansaço por não dormirem corretamente devido ao uso de celulares a noite. Sendo uma área que abraange muitos aspectos entre eles: sociais, econômicos, culturais, biológicos e tecnológicos os estudos exigem leituras de diversos temas que se relacionam em algum momento. É visto em diversos textos que o avanço na "interface de uso" dos dispositivos colaboram diretamente com o aumento do consumo de conteúdos interativos, não estou colocando aqui o uso profissional e sim a uso recreativo sem planejamento na infância e adolescência. Será que neste espaço no TabNews seria benvindo discuções para o uso consiente das novas tecnologias? Alguns exemplos:

  • A Netflix poderia dar opção de escolha para incluir ou ocultar sugestões (+18) na tela inicial, mesmo sendo um adulto que esteja escolhendo, aparecendo apenas em uma guia específica com verificação de senha.
  • Aplicativos de redes sociais apresentarem por padrão avisos iniciais(e recorrentes após um determinado tempo de uso) sobre os riscos físicos e psicológicos dos uso prolongado ou de maneira tóxica para todas as idades.
  • Alertar o usuário(qualquer idade) que o consumo de conteúdos acelerados(1,5x, 2x, 3x...) pode prejudicar diretamente a atenção e com isso a retenção de conteúdo. Como programadores poderiam adotar uma linha mais ética e sustentável para o bom convívio junto a tecnologia para o usuário final? Sei que tocar nesses pontos é como reduzir o faturamento das Big Techs, mas se continuar nesse ritmo podemos podemos ter consequências mais graves que a diminuição de faturamento. Estou desenvolvendo o roteiro sobre o tema para um ep. de podcast que produzo, gostaria muito de receber comentários para enriquecer este debate.

Sou da geração que usou PC 386, Pentium 100, Zipdrive, DOS 3.11, CorelDraw4, Visual Basic(só na escola de informática) e por aí vai.

Um abração a todos.

Daniel Vianna Professor de Educação Física Infantil, pós-graduado em Psicomotricidade, pós-graduando em pscopedagogia Pesquisador em Dependência digital Idealizador e produtor do Podcast Olhar Infantil https://open.spotify.com/show/1NEsr5aL75QBy8VsWYZ1S1?si=fb0e80063beb4d80 Instagram/Twitter/Medium ----> @dakdaniels

Começando hoje aqui pessoal, e já dei de cara com assuntos muito bons! Sendo breve, Sou pai de 4 filhos e esse assunto de uso exessivo de aparelhos digitais e inclusive o conteúdo consumido pelos meus filhos vem sempre a tona em nossas conversas familiares, temos conseguido manter tudo em um nível saudável acredito eu, e acho que a palavra chave é essa mesmo "Conversas familiares". É trabalho, estudo , pesquisas, enfim, tudo no cel ou computador, até quando vou para produção na máquina é computadorizado, então não tem como fugir, nossa vida está virando 'zero e um' kkk. Meus primeiros conhecimentos em programação são de aprox 20 anos atrás, então de lá para cá vejo que nós como programadores e usuários devemos fazer um esforço conciente de otimizar ao máximo as aplicações para reduzir um pouco o tempo de uso onde for possível, e trabalhar junto essa concientização sobre saúde física e mental que deve ser preservada.

Exato, acredito que o computação seja um meio e não um fim. A conversa familiar pode ser uma grande aliada na consientização do uso. Estamos aí.

Primeiramente seja bem-vindo, eu gostaria de fazer algumas pontuações sobre os exemplos que você deu.

Você percebeu que o uso de tecnologia impacta seus alunos negativamente. Creio que o uso consciente de midias sociais passa pela criação delas limitadas pelos princípios éticos. Por exemplo o uso de drogas como o álcool é nocivo a adultos e crianças, mas é especialmente danoso a crianças e o próprio Meta/Facebook sabe que o Instagram prejudica a saúde mental de adolescentes, mas não há restrições como existem com o álcool, apenas um limite mínimo de idade que só existe porque é ilegal utilizar os dados para direcionar a crianças com menos de 13 anos nos EUA e no Brasil.

As suas sugestões, como o aviso no segundo exemplo, são sugestões de métodos de intervenção para a mudança de comportamento. Nós dois sabemos que isso é um paliativo, já que as redes sociais que temos não são éticas.

Por último eu gostaria de explicar que qualquer "peça" que monta um aplicativo é chamado pelos programadores de funcionalidade e é implementada por programadores, mas quem decide qual funcionalidade entra ou deixa de entrar em um aplicativo não é um programador. É o chefe, que não constuma ser programador.

Como programadores podem adotar uma linha mais ética e sustentável para o desenvolvimento da tecnologia? Existem iniciativas de software livre e de software de código aberto, a fundação mais conhecida que advoga o software livre é a Free Software Foundation (FSF). Mas como você pode imaginar o capital investido nessa iniciativas é pequeno o que limita o seu alcance.

É isso mesmo, tive uma experiência este ano para gerenciar o "limite de tempo de uso" no Nintendo Switch e no Xbox Series S, o Nintendo consegui configurar facilmente. Já o Xbox foi mais complicado, tive que criar todos os usuários e as permições da cada um, criando um e-mail para cada usuário, depois conversando com o suporte tive a surpresa de que não era possível limitar tempo de uso para a conta principal já que se trata de um adulto, acho isso estranho pois têm muitos adulto que não conseguem ter controle do tempo uso. A questão ética pegou.

Primeiramente, você é mais que bem-vindo aqui.

Sobre o tema que você abordou acho muito importante discutirmos sobre ele. Atualmente, com o avanço das ferramentas de Inteligência Artificial e de Aprendizado Profundo (Deep Learning) os rastros deixados pelos usuários na internet passaram a ser de grande valor para as famosas BigTechs, não é atoa que já se tornou comúm pesquisar sobre algo que você tem interesse e depois encontrar um anúncio sobre aquilo que você pesquisou, essas ferramentas como Instagram, Facebook, Twitter e o próprio Google são ótimas ferramentas e todas elas gratuitas, no entanto muito gente esquece que quando algo na internet é gratuito no final o produto é você, existe um documentário muito bom chamado O Dilema das Redes que aborda esse tema, da engenharia por trás dos produtos dessas grandes empresas.

Aplicativos de redes sociais apresentarem por padrão avisos iniciais(e recorrentes após um determinado tempo de uso) sobre os riscos físicos e psicológicos dos uso prolongado ou de maneira tóxica para todas as idades.

Particularmente, eu acho essa ideia uma utopia, apesar disso já existir, mas é algo que muita pouca gente conhece e acaba sendo no final meio que uma hidden feature, o motivo para achar isso utópico é que essas empresas geram receita em cima dos dados gerados pelos usuários que utilizam da plataforma, esses dados são vendidos para empresas anunciantes, de forma que os anúncios são personalizados para cada usuário, portanto, esse é um ponto muito sensível que impacta diretamente a geração de receita dessas empresas.

Como sugestão para esse debate, acho que crianças não deveriam ter acesso a esses aplicativos tão cedo, como: YouTube, Facebook, Instagram, Twitter, TikTok e etc... Pois eles foram pensados para prender a atenção do usuário por muito tempo e gerando um certo prazer, através da liberação de dopamina, ao receber conteúdos que te interessam, no meu entendimento isso afeta diretamente o desenvolvimento da criança, mas claro que isso tinha que ser algo incentivado pelos pais, ou seja para que isso pudesse acontecer o pais teriam que ter consciência dos danos causados pelo uso excessivo e passar a controlar o uso dos filhos, essa é uma medida com resultados a longo prazo, ou seja, para as próximas gerações.

Sim Messias, hoje tem a "economia da atenção", cada minuto olhando para a tela do celular conta, tive que "ensinar" meu filho maior a ouvir música, hoje é muito comum ver alguém ouvindo música no Spotify hipnotizado olhando na tela, tocando em menus e opções sem um propósito real, como se fosse uma bolinha anti-stresse.

Daniel, eu sou educador também, professor de língua inglesa e coordenador pedagógico. Estou aqui porque gosto muito de tecnologia digital. Gostei muito de encontrar um educador por aqui, pois, sei que os estudos em educação têm muito a contribuir com a área de tecnologia trazendo-a para o âmbito pedagógico. Existem muitos bons profissionais na área tecnológica, sem dúvida. Porém, percebo que a maioria (com abordagem muito mais técnica) precisa de acessoria e suporte pedagógico para que os estudos em tecnologia sejam mais acessíveis e alcancem muito mais pessoas.

Bingo! A computação por aqui nos anos 90 foi bem eletista, demorou para ter computadores em escolas públicas e quando tinha é muito limitado o uso, junto com a linguagem dos professores que era altamente técnica assustava os que não tinham muita afinidade com o tema.

Bom dia dakdaniels!

Seja muito bem-vindo à comunidade!

De acordo com os Termos de Uso, "O TabNews tem como objetivo principal servir como plataforma para conteúdos de valor concreto para quem trabalha com Programação e Tecnologia.".

Acredito que falar sobre uso consciente é um conteúdo relevante para os programadores sim...

E, além disso, sugiro dar uma olhada nesse post que preparei para quem está entrando na comunidade!

Muito obrigado, vou procurar sempre alinhar os temas para melhor aproveitamento do espaço TabNews. Até mais!

Também não sou programador, mas vi que este espaço tem capacidade de abraçar todo mundo. Acompanho o canal do Fellipe desde o inicio da pandemia e o mesmo só reforçou que ainda posso estudar programação (tenho 30anos). Sei um básico de HTML, mas coloquei metas para os próximos meses, inclusive pretendo compartilhar com vocês em breve. Acho que um espaço como esse só irá fortalecer a comunidade - e sinceramente, se isso trouxer ânimo e disciplina pra todo mundo... fechou! E creio que isso também faz parte da ideia, ne? Eu mesmo já saturei do "mundo normal". Pretendo passar um bom tempo explorando TabNews e conversando com a galera.

Bem isso, se pararmos para pensar muitas de nossas ação foram fortemente influenciadas por algoritimos que fazem um curadoria apenas com base em nosso comportamente, esquecendo que precisamos de outros olhares do mundo.

Meu primeiro comentário aqui no TabNews... Achei o assunto muito relevante e gostaria de acrescentar dois pontos:

Acredito que podemos estar caminhando para um cenário pior se a visão de metaverso de uma certa Big Tech se tornar real. O que acham do metaverso como está sendo divulgado? Talvez seja só marketing? Pois a ideia de um metaverso não é nova, só tomou esteróides.

Outra questão é que há como criar um perfil para crianças na Netflix e colocar um PIN nos outros. Esse perfil para crianças pode ter a classificação definida e também podem ser adicionados títulos em uma lista de bloqueio. E há recursos de controle familiar, incluindo de tempo de uso, no iPhone e Android. Enfim, existem os dois lados da moeda, por um lado muitas Big Techs estão focadas no lucro e até facilitam que os seus usuários se tornem viciados, mas por outro lado, muitos pais não educam seus filhos quanto ao uso saudável da tecnologia. Ah, e também tem a "casa dessa moeda": podem até existir empresas que criam recursos para evitar o vício e proteger nossos dados por boa vontade, mas será que a atenção do governo nas práticas dessas empresas está sendo adequada? Certo que vemos algumas cutucadas por aí que geram bons resultados para os usuários, mas será suficiente? No geral, nossas crianças são responsabilidade de todos. Se isso estivesse sendo levado mais a sério, talvez seria mais normal ver crianças brasileiras com bons futuros... Isso não seria para poucos.

o metaverso já tá morto, foi muito mal executado e o dono e um lunático!
Existem outras empresas com ideias mais realistas para o metaverso. Mas, mesmo se não tivesse as controvérsias e problemas básicos, como da questão de mal estar ao usar realidade virtual por muito tempo, acho que a ideia de metaverso é muito de hype. Talvez tenha seu uso, mas a ideia de uso constante e generalizado não deve funcionar.

cara, assunto muito bom, se puder falar mais eu agradeceria, ja imaginei e tive efeitos de consumir aulas em 2x e não ser nada produtivo e aprender quase nada, mas nunca vi a fundo sobre isso, muito interessante abordar algo sobre isso, a comunidade é tech, mas saúde e preocupações sobre a tecnologia é algo que precisa ser muito falado para prevenir problemas futuros

Eu sempre fui tímido para compartilhar coisas, mas acho que agora chegou a hora de mudar. Estou com o projeto do Podcast junto com um canal do YouTube. Consegui publicar algum conteúdo, mas consegui estruturar melhor e virão muitos temos em breve.

Caro dakdaniels, particularmente, julgo seu trabalho muito relevante para esta plataforma e gostaria de ver mais artigos seus explanando sobre o tema. Eu poderia chamar de "educação digital" que é muito necessária para crianças e adultos. Estamos cada vez mais expostos a telas, trabalhamos, estudamos, nos divertimos e entretemos no meio digital sem uma consciência a cerca do uso saudável dos dispositivos eletrônicos acabamos por prejudicar nosso equilibrio fisico e mental. A gestão do tempo acaba sendo um outro problema que eleva as consequências para o campo profissional e acadêmico de nossas vidas.

Olá, gostei muito da sugestão sobre "educação digital". Confesso que sempre fui tímido para compartilhar opiniões com medo de críticas, mas hoje com mais idade começei a me expor mais(saí da toca, risos). Estou finalizando um artigo acadêmico sobre o tema vinculado a minha pós-graduação, iniciei este ano o Podcast Olhar Infantil que inclui temas de tecnologia junto a outros assuntos do mundo infantil. No Youtube iniciei algumas publicações, tive um retorno interessante de ouvintes e novos epsódios já estão em produção. Abraços.

Os exemplos que você deu se encaixam muito bem aqui, Daniel. Fiz um comentário com exemplos para quem não é programador e que podem sim participar do TabNews, segue os exemplos:

  • Um pintor que fala sobre técnicas de arte e como as IAs que geram imagens podem ser avaliadas do ponto de vista artístico, quais as diferenças das obras geradas quando comparadas às feitas por um humano.
  • Um editor de vídeo dando dicas de atalho de um software de edição (já tivemos dicas de atalho de IDEs para programadores aqui).
  • Um músico contando como foi a experiência de compôr uma música e quais tecnologias usou no processo.
  • Um advogado falando sobre como funcionam as licenças mais comuns usadas em códigos abertos.

Eu acho que, inclusive, publicações como a do exemplo "(...) o consumo de conteúdos acelerados(1,5x, 2x, 3x...) pode prejudicar diretamente a atenção e com isso a retenção de conteúdo", são extremamente benéficas para a comunidade, trazendo dados que contribuam com essa afirmação.

Se eu fosse um desenvolvedor de uma empresa de ensino, ficaria muito feliz em encontrar uma publicação desse tipo sem estar esperando, porque é algo que talvez não estivesse no meu radar mas que descobri por acaso. Hoje mesmo vi uma publicação sobre PIX que colocou algo no meu radar para estudar mais tarde, e está relacionado com meu trabalho.

Obrigado pelo apoio, eu sendo da área da educação sempre me aventuro em outros temas, e sendo pais acredito que é uma obrigação observar assuntos ao redor para "conversas familiares" como foi dito pelo Sérgio aqui nas respostas. Tenho diversos temas para compartilhar, este sobre "conteúdos acelerados" já está em produção para o Podcast, um dos livros de referência é o "Irresistível, por que você é viciado em tecnologia e como lidar com ela", de Adam Alter.