Seja Junior Por Um Dia!

Estava ouvindo o podcast do Dev na Estrada, episódio DNE 412 — Carta de um Júnior para um Sênior, coincidentemente enquanto tentava montar um guarda-roupa de 4 portas e 2 gavetas.

O que deveria ser relativamente simples para alguém com algum conhecimento em montagem de móveis, o que deveria levar no máximo 40 minutos, porém levei 3 horas e 30 minutos para montar, e isso me fez refletir.

Sou desenvolvedor desde 2015, não me considero sênior e continuo no caminho para ser um.

Troquei algumas vezes de empresa até me encontrar no local onde estou e me sentir feliz.

Por essas mudanças de empresas, conheci muitas pessoas e também tecnologias diferentes.

Meu começo foi um pouco complicado.

Eu fiz um curso técnico na ETEC, que foi ótimo e me ajudou bastante, mas saí do curso sem saber muito.

Descobri alguns anos depois que muito do que aprendi já tinha evoluído, mas eu tinha uma base. Porém, precisei estudar mais e não tinha ninguém na área para me ensinar, somente vídeos do YouTube e cursos da Udemy.

Fiquei alguns anos trabalhando como designer gráfico e estava confuso sobre a área de tecnologia.

Tive um primeiro emprego complicado.

Acho que o primeiro emprego na área sempre é complicado, mas alguns anos depois decidi me focar e aprender de qualquer forma o que precisava.

Aprendi Python e fiz cursos na Udemy, vídeos no YouTube e lia artigos no Medium, o que faço até hoje.

Nas minhas primeiras oportunidades, não tinha contato com outros desenvolvedores, era somente eu na equipe como desenvolvedor.

Fiquei 4 anos trabalhando praticamente sozinho no desenvolvimento, tinha um colega estagiário que estava começando a se interessar pela área.

Ele ainda não escrevia código, estava aprendendo. Não que eu já soubesse muito, mas já desenvolvia alguns softwares, o que foi interessante porque a partir desse contato, eu comecei a entender a importância do júnior na empresa.

Meu colega me perguntava sobre muitas coisas, coisas simples, complexas, sobre o que é front-end, o que é back-end, como saber o que seguir, o que fazer, como fazer uma rede social.

Foi interessante, nem sempre eu tinha as respostas, porque não tinha tanta experiência também.

Mas aprendi muito com ele, porque as dúvidas que ele levantava me ajudavam a esclarecer pontos do que eu não sabia, que eu não fazia ideia de como era, ou que talvez eu entendia, mas não sabia como funcionava a ponto de dar uma boa explicação.

Quando saí dessa empresa, queria ter contato com outros desenvolvedores, então trabalhei em uma escola, onde o meu trabalho era desenvolver a parte de matrícula online escolar.

Nesse emprego, entrei como júnior, mas em 3 meses fui efetivado para pleno.

Nesse emprego, também tinha um júnior, novamente ele me ensinou muitas coisas.

Eu não havia feito ainda um cronjob e ele me mostrou como fazer, me explicou seu funcionamento e me deu apoio sobre.

Mostrei muitas coisas que aprendi para ele também. Era uma pessoa incrível e tinha uma história de vida mais incrível ainda.

Ele não ficou muito tempo na empresa, se sentiu muito pressionado e encontrou outra oportunidade na época, mas ainda temos contato.

O que quero transmitir com esse conteúdo é que sei que algumas vezes é complicado auxiliar o júnior em algumas tarefas. Você está cheio de tarefas para fazer, tem prazos a cumprir, que você já acordou com a equipe. Também pode não querer perder a concentração com mensagens a todo momento. Mas como eu disse no início do texto e como diz no título, eu quero propor uma experiência para quem está lendo esse conteúdo.

Eu estava montando um guarda-roupa que um montador faria provavelmente em 40 minutos e eu levei 4 horas.

Simplesmente entre eu abrir a caixa e separar os parafusos, devo ter levado 40 minutos, isso sem nem ter lido o manual ainda.

Quando li o manual, eu tive uma extrema dificuldade em entender absolutamente tudo, onde cada coisa ia se encaixar.

Foi complicado, parecia algo muito diferente e algumas peças não faziam sentido.

Depois, descobri que esses manuais são meio que genéricos, existem alguns guarda-roupas que têm a mesma estrutura, mas são diferentes em algumas partes, a base é a mesma, mas muda uma coisa ou outra.

Procurei no YouTube e ainda assim não foi o suficiente. Então, decidi montar mesmo com dúvidas, fui fazendo com cuidado, calma, revisando cada etapa e com cautela para não errar, eu estou de férias, então queria fazer isso.

Durante o processo, eu estava escutando um episódio do podcast do Dev na Estrada e foi engraçada a conexão que fiz sobre eu estar montando um guarda-roupa não tendo nenhuma experiência.

Eu poderia ter montado mais rápido com ajuda de alguém experiente, claro, que tivesse paciência e me explicasse algumas coisas. Também poderia ter montado mais rápido se soubesse ou se já tivesse montado outro guarda-roupa parecido, mas não foi o caso.

Me lembrei de quando eu estudava Android com Java e XML e precisava usar o Eclipse, que eu não fazia ideia de como usar.

Ninguém no meu curso técnico sabia como fazer, não tinha aula de desenvolvimento para Android ainda, tive que estudar muitas horas sozinho e fazer tudo sozinho, o que foi bom e ruim.

E algo que consegui compreender com essa experiência é que, muitas vezes para quem já tem algum tipo de experiência, seja montando um guarda-roupa ou desenvolvendo um software, algumas coisas são mais simples. Somente lendo um manual ou entendendo o que teremos que desenvolver na nossa cabeça, as coisas vão se moldando e já sabemos o que fazer, quando começar e quando não sabemos, já temos a noção de onde e o que fazer.

Só que quando estou fazendo aquilo pela primeira vez, eu não tenho noção alguma do que tenho que fazer.

Sei que existem vários níveis de pessoas juniores, eu sei algumas pessoas têm mais conhecimento e outras não, mas minha reflexão é que para termos uma comunidade de desenvolvimento forte, é necessário apoiar e auxiliar as pessoas mais novas sem experiência.

Como eu disse algumas vezes, estamos com o prazo apertado e o dev júnior está nos perguntando uma coisa que para nós parece óbvio.

Um superior me dizia sempre que antes de escrever qualquer coisa, devemos pensar se a pessoa que está recebendo aquela mensagem tem o mesmo contexto e conhecimento para compreender da forma que eu estou escrevendo.

Ele dizia que o que pode ser óbvio para uma pessoa mas para a outra não

Eu já vi muito isso acontecer, pessoas que não têm muita paciência, temos que entender que pessoas têm dias difíceis e dias fáceis, problemas, mas sempre precisamos dar atenção a quem precisa.

Mas utilizar as palavras corretas não só ajuda o dev júnior a te admirar e respeitar, como você dá um turbo, uma motivação para ele seguir em frente.

Ao invés de tratá-lo como inferior, trate como igual, independente do seu cargo.

Porque como ele está começando, ele tem mais vontade e mais disposição para fazer acontecer.

Quem está na área algum tempo sabe de algumas coisas, tem coisas bem complicadas na área, mas estamos aqui ainda, então acredito que vale a pena.

Mas imagine só o que você pode ser na vida dessa pessoa, ele pode simplesmente nunca mais querer ser desenvolvedor porque você não teve 10 minutos para ele, parece dramático, mas de fato se você sempre ignorar ele perderá a vontade de perguntar, ou simplesmente ele pode ser o melhor desenvolvedor de uma empresa daqui a alguns anos e lembrar com carinho da sua ajuda.

O mundo gira, um dia você está em uma empresa, no outro está em outra.

Não seria agradável caso você precise sair de uma empresa e na outra ter alguém que te apoie, que te admire e saiba que você é alguém que trabalha bem em equipe? O dev júnior que você está ignorando/ajudando amanhã pode ser o seu avaliador em outra empresa.

Caso você ainda não tenha se convencido que pequenas atitudes têm grandes impactos, te proponho um exercício, faça algo completamente novo hoje, algo que você não faz ideia de como funciona, como é, ou que não sabe nada sobre e tente fazer (claro, se isso não colocar sua vida em risco).

Tente fazer algo novo, tenha essa experiência novamente, talvez você já esteja há tanto tempo desenvolvendo software que não lembra mais como foi seu começo ou criou um ego muito grande que pode estar te prejudicando.

Mas tente, veja como é desafiador e divertido e veja o que o dev júnior na sua empresa está passando.

Sei que você queria que ele soubesse mais sobre algum tema específico, mas essa é sua responsabilidade mostrar os caminhos que ele vai seguir, alertar sobre os possíveis problemas.

Você que está hoje trabalhando ao lado de um dev júnior tem a capacidade e dever de ajudar e transformar a vida de uma pessoa.

Lembrando do meu primeiro emprego, por pior que tenha sido a minha experiência, eu fiz amigos que converso até hoje, nunca passei por uma empresa e não fiz amigos, pessoas das quais guardo com carinho, que me auxiliaram nos momentos difíceis, mesmo naquela época eu achando que era o melhor desenvolvedor do mundo(sim eu era muito iludido e convencido), eles me apoiaram e me ajudaram e hoje sempre que posso faço o mesmo.

Estamos em uma jornada, não tem sentido ser rude com ninguém por nada, aprenda com todos.

Agradeço a cada profissional que passou pela minha jornada até hoje, todos foram essenciais e me ensinaram algo.

Não sabemos de tudo e nunca saberemos, como programadores temos que aprender a cada dia, eu acredito que um desenvolvedor sem empatia terá muita dificuldade na carreira, porque ter empatia ajuda a desenvolver um software melhor.

Quando você tem empatia, você escreve um código mais limpo para o seu colega entender com mais facilidade, quando você tem empatia, se preocupa com o seu cliente que usa o software, quando tem empatia, você é mais cuidadoso com as palavras em um code review.

Ter empatia é aprender, derrubar o muro que existe entre você e outras pessoas, para ver as coisas de forma diferente.

Você pode estar em um momento muito difícil hoje ao qual pode ter se esquecido da empatia, porque tem muitas cobranças, muito estresse e talvez aquele sonho que você tinha quando começou na área pode estar mais obscuro, mas se você perder isso, essa vontade que te move, seja lá o que for, você não será feliz no trabalho.

Então, tenha empatia pelo júnior, pelo pleno, pelo sênior e por todos que trabalham com você porque são pessoas e muitas vezes quando trabalhamos com software fica fácil esquecer disso.

Cara, baita escrita, bytes e bytes de experiência!

É como Thors, de Vinland Saga, disse ao Thorfinn: "Você não tem inimigos".

Não há motivos, tão pouco razões, para destratar, inferiorizar e ignorar alguém que gosta e está começando na área do desenvolvimento.

Tenho 18 anos, estou cursando Ciências da Computação, e vou te dizer, não consigo me imaginar fazendo outra coisa além de escrever linhas de código.

Penso que essas linhas, além de serem meu sustento num futuro não tão distante assim, vão transformar vidas de outras pessoas, modificarão o cotidiano de outras pessoas, e isso é muito foda!

Assim como espero conhecer e aprender com os macacos velhos da área, espero um dia ensinar e repassar os conhecimentos que eu adquiri durante minha jornada.

Gostei muito da sua postagem ainda, mais a forma em que toda essa discussão começa.

Discussões complexas começam com problemas simples.

Bem que poderia exitir essa citação.

E é muito interessante a gente observa como nos adquirimos conhecimento.