Web 3.0 - A web do futuro chegou - Parte 2
Continuação do artigo Web 3.0 - A web do futuro chegou - Parte 1
3. Governança e Incentivos
A possibilidade de criar e distribuir ativos digitais, somada ao desenvolvimento de programas que conferem direitos a estes ativos, abriu novas possibilidades para incentivar participantes.
Ao lançarem seus programas e bancos de dados abertos que vão sustentar a nova rede, os criadores podem lançar também tokens com características de equity sobre essa rede. O código do programa prevê direitos de governança aos detentores desses tokens. Propostas podem ser levantadas pelos “acionistas” e vão a voto, num processo muito semelhante ao das assembleias. Elas podem envolver assuntos como a direção estratégica do desenvolvimento da rede, o ajuste de eventuais taxas cobradas pelo serviço em benefício de uma tesouraria própria da rede (muitas vezes usada para financiar o desenvolvimento) e até o controle sobre esses recursos em tesouraria (para determinar, por exemplo, o pagamento de dividendos).
Isso gera um senso de pertencimento único. Como os tokens já nascem abertamente negociados e as redes crescem rápido, a sensação de oportunidade dos participantes fica aguçada ao ver o preço de mercado responder à evolução da rede. Os participantes se sentem incentivados não apenas a usar mais o produto, mas também a apresentá-lo para seus amigos ou mesmo ajudar no desenvolvimento. Boa parte das redes de Web3 que tiveram algum sucesso até agora não gastaram nada em propaganda – os próprios incentivos se encarregaram da divulgação. Compare o caso anterior com uma rede aberta de cadastro de propriedades para aluguel em blockchain. Essa rede poderia ser independente de qualquer entidade específica, sendo governada por tokens que seriam distribuídos para incentivar empresas, proprietários e usuários a utilizarem ela.
As empresas que criassem apps de aluguel de propriedades poderiam contribuir juntas para esse mesmo banco de dados (que forma a rede), com participação econômica direta no sucesso da rede. Tais empresas saberiam que as regras seriam mantidas e que a rede não teria poder imprevisto sobre elas. Nessa estrutura, a rede do Airbnb competiria contra o conjunto de todos os concorrentes que contribuíssem para essa rede aberta, numa dinâmica bem diferente – que poderia levar o Airbnb a ter que se adaptar. O leitor pode se perguntar se, no longo prazo, a governança dessa rede não acabaria se concentrando igualmente nas mãos de poucos, que votariam por escolhas que atendessem a seus interesses, num cenário não muito diferente do que tínhamos antes.
Isso não funcionaria, pois todos os programas e dados são abertos. Se um conjunto grande o suficiente de participantes ficasse insatisfeito com as regras, poderia copiar a rede existente (e seus dados) e lançar uma alternativa ao lado com regras que achassem justas. Vencem as redes que equilibram melhor os interesses dos participantes. Ao conectar tokens a redes abertas e públicas, a Web3 abre um caminho potencialmente viável para competir com as redes das grandes plataformas. Faz isso ao organizar incentivos e governança entre inúmeros participantes para formar uma frente única de ataque.
4. Composabilidade
O desenvolvimento de software aberto de forma colaborativa (open source) é uma prática desde os primórdios da internet. A comunidade de programadores une forças em busca de objetivos em comum – e é uma das poucas situações em que os gigantes de tecnologia colaboram genuinamente. Um exemplo de sucesso é o Linux, o sistema operacional usado na maioria dos servidores de nuvem.
As vantagens claras do open source são a eliminação do trabalho duplicado e a utilização de soluções mais robustas e eficientes. Quando uma empresa resolve um problema com um sistema proprietário, todas as outras que esbarram no mesmo problema precisam gastar tempo desnecessário para criar suas próprias soluções. Quando a comunidade resolve um problema abertamente e em conjunto, ninguém precisa reinventar a roda – todos já partem da melhor solução disponível, ajudam a identificar erros e propor avanços, e podem concentrar seu tempo nos problemas ainda não resolvidos.
Do ponto de vista sistêmico, o ganho é enorme. O open source era visto como o futuro do desenvolvimento de software entre a primeira e a segunda geração da web, mas acabou não decolando como previsto. Talvez sua limitação mais relevante tenha sido a incapacidade dos colaboradores monetizarem suas contribuições. Ficou conhecida a história de Tim Berners Lee, o inventor da web (i.e. do protocolo aberto HTTP), que acumulou algo como $10 milhões de patrimônio ao longo de toda sua carreira, majoritariamente por meio de palestras – uma fração do valor de uma startup média da internet. Na prática, a falta de um mecanismo de compensação financeira incentivava que novos desenvolvimentos de software se mantivessem fechados para que pudessem ser monetizados.
Na Web3, a associação de tokens a códigos abertos permite que o desenvolvimento de redes em open source seja bem remunerado. Nela, os programadores têm o incentivo de lançar soluções abertas ao invés de fechadas, para maximizar o alcance de usuários e se estabelecer como padrão. A confiança transmitida pelo código aberto torna mais atraente que desenvolvedores construam em cima de códigos de outros desenvolvedores – o que é chamado de composabilidade.
Por exemplo, a Uniswap criou uma bolsa autônoma para negociações de ativos digitais. O programa inicial foi lançado em 2018 por um ex-engenheiro mecânico da Siemens, que o fez praticamente sozinho mesmo sem saber programar até alguns meses antes do feito. A empresa tinha menos de 10 funcionários até 2020, quando começou a decolar. Em maio de 2021, atingiu próximo de $5 bilhões por dia de volume negociado, comparável ao volume da B3 – mas com apenas 32 funcionários..
A B3, por sua vez, tem mais de 2 mil funcionários. Isso só foi possível pelo fenômeno da composabilidade. O código da Uniswap se sustenta nos sistemas de custódia e liquidação da própria blockchain, e também no sistema de criação de tokens já presente na rede. Não foi necessário recriar nenhum desses sistemas, e tem-se a confiança de que nenhum deles mudará suas regras ou deixará de funcionar no futuro.
Da mesma forma, uma nova geração de programas e aplicativos pode alavancar a existência da Uniswap. Por exemplo, um aplicativo financeiro em Web3 pode permitir que seus usuários comprem e vendam ativos digitais a mercado simplesmente integrando a Uniswap, com todas as garantias mencionadas acima. Num exemplo não-financeiro, um estúdio de videogames pode integrar a Uniswap para permitir que seus usuários negociem itens dentro do jogo, sem ter que criar seu próprio marketplace e acessando um pool de liquidez compartilhado com terceiros.
Além disso, ninguém precisa pedir permissão para a Uniswap (ou qualquer outro código) para integrá-la em seus apps, e a Uniswap não consegue impedir ninguém de usar seu programa. Com essa estrutura de incentivos para o desenvolvimento aberto, a Web3 coloca à disposição de seus desenvolvedores uma vasta gama de serviços de ponta, já com redes estabelecidas, para que eles construam em cima com confiança. Isso acelera consideravelmente o desenvolvimento de novos serviços. O ponto de partida ainda é rudimentar hoje, mas o ritmo de evolução é rápido.
5. Interoperabilidade
A experiência da internet atual é compartimentada. Em cada plataforma que visitamos, temos um conjunto de dados que está restrito apenas àquele universo. Seguidores e publicações no Instagram, vídeos no Youtube, playlists no Spotify – nada disso existe fora do domínio de cada plataforma. Estamos acostumados a isso, mas poderia ser diferente.
A proposta da Web3 é que, com os dados dos programas abertos em blockchain e passíveis de integração por qualquer terceiro, consigamos convergir para padrões de ativos digitais que funcionarão em múltiplas ocasiões. Um exemplo nesse sentido é o Reddit. A rede social está testando um modelo de pontos reputacionais em blockchain para seus usuários, usando um banco de dados aberto no Ethereum. A ideia é que esses pontos possam transcender o Reddit, valendo também para outras redes sociais que venham a adotar o sistema. Os usuários ganham pontos ao contribuir para as discussões em comunidades online e receber “likes” de outros usuários. Isso torna o perfil deles mais reconhecido – por exemplo, os pontos aparecem ao lado do nome do usuário no Reddit, facilitando que ele sobressaia numa discussão. E pelos pontos estarem na blockchain, os usuários podem “levar sua reputação” para discussões em outras redes também.
Da mesma forma, poderíamos imaginar exemplos semelhantes para um jogo de videogame. Um usuário poderia adquirir itens em um jogo que fossem registrados num banco aberto, e esses itens poderiam ser integrados à vontade por outros jogos. Note que, pela mera aceitação do item em outras experiências, sua utilidade e valor potencial sobem.
Essa capacidade de co-desenvolver ativos digitais que sejam comuns entre experiências é um pilar fundamental para estabelecer uma verdadeira economia digital. Hoje, a grande maioria dos ativos digitais que possuímos são como vouchers em parques de diversões – compramos na entrada e precisamos gastar por lá. A interoperabilidade é o que permite que os vouchers sejam convertidos em ativos ou dinheiro e sejam levados para outros lugares. Essa é a principal ligação entre Web3 e Metaverso, apontada na introdução.
Ainda é cedo para adivinharmos as possíveis estruturas que surgirão dessas capacidades e quais sairão vencedoras do processo. Por ora, o que devemos reconhecer é que a interoperabilidade gera valor significativo para o ecossistema e é algo desejado pelos participantes. Com blockchains, temos uma solução tecnológica factível para implementá-la. Recentemente, o próprio grupo do Facebook (hoje, Meta) mencionou que está investigando o tema e que pretende adotar padrões abertos para ativos em suas plataformas – faz sentido, dado que estão investindo pesado em tecnologias relacionadas ao Metaverso. Se esses padrões vingarem, as plataformas atuais terão que se adaptar a uma nova realidade.
6. Exclusividade
Não poderíamos deixar de mencionar os polêmicos NFTs. O termo faz referência a tokens únicos que representam ativos únicos. Podem estar associados, por código ou por confiança, a qualquer coisa – uma imagem, uma música, um texto ou mesmo um apartamento no mundo físico. O uso mais comum hoje é para obras de arte digitais, mas o conceito é amplo.
Essencialmente, NFTs são registros únicos de propriedade numa blockchain, com todas as características que mencionamos até aqui. De forma simplificada, qualquer usuário pode criar um NFT a qualquer momento, inserindo uma linha num banco de dados público que diz que um determinado ativo pertence a alguém. O que garante a legitimidade do NFT é justamente a conta que o criou e o histórico de transações, que ficam salvos de forma permanente na rede. Ou seja, se Pablo Picasso criasse um NFT para uma obra sua, até poderiam aparecer vários outros NFTs ilegítimos dizendo ser da mesma obra, mas seria possível distinguir com confiança o original.
Note que o NFT é apenas o registro da propriedade. Para ativos físicos, o dono em geral pode restringir o acesso ao ativo – se tenho um apartamento, posso decidir quem pode ou não usufruir dele. Mas para ativos digitais esse limite não existe, pois podem ser livremente copiados a custo zero – se compro uma imagem digital, nada impede que alguém copie ela.
Ativos digitais escassos exclusivos – que podem ser negociados abertamente numa rede pública e integrados livremente pelas mais diversas plataformas – podem mudar a forma com que criadores monetizam seu trabalho na internet. Por sua vez, as plataformas atuais deverão integrar novas capacidades, o que se mostrará uma oportunidade para algumas e um risco para outras.
Conclusão
Ainda não existe definição formal sobre o que exatamente é a Web 3. No entanto, é consensual que envolve esse conjunto de funcionalidades onde a internet deixa de ser um mero canal de comunicação e passa a armazenar e processar informações de forma autônoma e segura por meio de redes de blockchain.
Para as empresas em geral, a Web 3 provavelmente implica que terão mais abertura para inovar e competir. Com mais programas, redes e dados abertos para integrarem, partirão de um ponto mais avançado do que antes. Poderão focar na inovação e lançar produtos melhores com menos tempo e esforço, impactando mesmo os segmentos bem estabelecidos.
Para nós, usuários, provavelmente implica que teremos carteiras digitais no navegador, celular e outros dispositivos que acessam a internet. Essas carteiras conterão dinheiro e ativos digitais de valor, que poderão ser usados de forma interoperável em diversas experiências no mundo digital e físico, e que poderão ser negociados abertamente na internet ou transferidos para quem quisermos a baixo custo.
Através destas carteiras também conseguiremos assinar contratos inteligentes e acessar as DAPPS que serão aplicativos descentralizados para interagir com a Web 3.0 e com o poder da Interoperabilidade iremos criar somente 1 perfil em toda web e compartilhar ele em várias plataformas diferentes, seja através da web ou dentro do metaverso, teremos um ID único e pessoal onde iremos interagir através dele com a Web 3.0.
Tudo isso está acontecendo agora, e provavelmente em poucos anos estaremos todos participando disso mais rápido do que você pensa ou quer admitir, portanto aconselho fortemente que os desenvolvedores comecem a se reciclar e a estudar sobre blockchain, DAPPS, contratos inteligentes para não ficarem para trás de toda esta mudança de paradigma que ja bate a porta.
Eu estou estudando Web 3, criação de contratos inteligentes, NFT´s, DAO´s, DAPP´s e quero convidar você a fazer o mesmo. No próximo mês irei criar um grupo para estudar tudo isso, se você tem interesse nesse assunto, deixe ai nos comentários que você tem interesse, e se chegou até aqui e gosta deste assunto, deixe seu like e vamos construir juntos a nova internet
Opa, tenho muito interesse em estudar o assunto.