Na internet, nada se cria, tudo se copia

E tá tudo bem!

... desde que as fontes sejam citadas e as leis respeitadas.

Manifesto de Morpheus

Um apelo a quem cria ou resposta conteúdo e a quem consome também.

Leia o resumo ou vá direto pro textão :)

Tl;dr

Posts sem fonte são como o agente Smith da Matrix e oferecem algo similar a ela: uma realidade limitada e muitas vezes manipulada, uma bolha. Precisamos de posts como Morpheus, que não só oferecem o conhecimento, mas também emancipam e encorajam os leitores a se aventurarem nas profundezas do saber

Pontos-chave

  • Programar é uma atividade criativa (quase poesia!) e ser criativo é fazer conexões
  • Para fazer conexões, é preciso munir-se de recursos relevantes (e irrelevantes também! Vide Jobs e caligrafia)
  • A única constante na nossa indústria é a mudança. Tudo muda, sempre, e muito rápido.
  • Portanto, é mais importante saber para onde correr e a quem recorrer do que tentar saber de tudo
  • Para isso, é preciso estar sempre atento e guardar pílulas de conhecimento que possam vir a ser úteis um dia (posts, tweets, documentações, etc.).
  • Não é preciso tomar e assimilar todas as pílulas, arriscando uma overdose, mas é preciso saber onde elas estão.
  • Mais importante ainda, é saber como encontrar novas pílulas quando estiverem em falta (Quais blogs, quais sites, como pesquisar no google, no SO, etc.)
  • E é por isso que posts sem fontes fazem tão mal. Além de correr o risco de serem plágio, eles tecem uma realidade manipulada e limitada.
  • Tal qual o agente Smith da Matrix, esse tipo de post oculta o mundo externo do leitor e o mantém preso numa bolha
  • Precisamos de posts que façam como Morpheus, ampliando os horizontes e encorajando os leitores a se aventurarem sozinhos.
  • Aos leitores, que sejam como Neo, sempre seguindo o coelho branco em busca do conhecimento (explorando as fontes), e sempre desconfiando de tudo (posts sem fonte)

Textão

Na minha singela opinião, as características mais importantes de um profissional de tecnologia são autonomia e o pensamento crítico.

Na nossa área, a única constante é a mudança. Tudo muda, a todo instante, em uma velocidade quase desleal. Não é a toa que temos uma cultura fortíssima de compartilhamento de conhecimento e open-source, algo sem paralelos em outras indústrias. Talvez fosse impossível acompanhar as mudanças sem essas redes.

Nesse mundo caótico e em movimento, é mais importante saber para onde correr e a quem recorrer do que tentar saber tudo na ponta da língua. A massa gelatinosa dentro dos nossos crânios não é otimizada para ser um data center, mas sim para fazer conexões.

E esse é o nosso trabalho no fim do dia. Fazer conexões, unir conceitos e encontrar novas soluções criativas para problemas, velhos e novos. Fred Brooks sugeriu, em O mítico homem-mês, que

"o programador, como o poeta, trabalha apenas levemente deslocado de um ambiente de pensamento puro. Ele constrói seus castelos no ar, de ar, criando a partir da sua imaginação".

(Ver citação completa, em portugês, no blog do Alexandre Aquiles).

Parece até que ele está dizendo que código é poesia e os programadores são poetas. E alguns realmente são.

Para mim, poesia é a arte de expressar com maestria alguma faceta da vida ou do mundo. Um bom poema muitas vezes expressa um sentimento que nem sabíamos que sentíamos, e sua leitura não só nos revela sua existência, mas nos ajuda a compreênde-lo.

Um bom código evoca sensações parecidas ao expressar com clareza e elegância os mais sofisticados sistemas e algorítmos. Seus leitores sentem imensa satisfação ao conseguir compreender tamanha complexidade, muitas vezes sem nem perceber que ela existe. Tal qual um bom poema, ler um bom código é uma experiência prazerosa e elucidativa.

Mas não há poesia sem inspiração, e inspiração nasce de um olhar crítico e atencioso sobre mundo. O olhar do poeta questiona até as coisas mais óbvias, e é daí que saem os melhores poemas. Esse deve ser também o olhar do programador, sempre atento e questionador, buscando inspirações e formas cada vez melhores de se expressar.

Devemos ser como Neo da Matrix, que corre atrás do coelho branco em busca de conhecimento. Que não tem medo de ir a luta e expandir seus horizontes, confrontando suas próprias crenças e realidade.

Devemos buscar pessoas, blogs, publicações e artigos que agem como Morpheus, oferecendo a verdade nua e crua, com todas as suas diferentes facetas. Que são transparentes, instigam a curiosidade, expandem os horizontes, promovem e habilitam a autonomia e encorajam seus leitores a se aventurarem e se aprofundarem por conta própria.

Devemos lutar contra pessoas, blogs, publicações e artigos que agem como o agente Smith, tentando reduzir e controlar a realidade. Que tem interesses obscuros e dissimulam,que manipulam e ofuscam e que aparentam ajudar mas são inimigos da emancipacão intelectual.

Fiquemos sempre atentos e sedentos, sempre correndo atrás do coelho branco do conhecimento. Não nos deixemos ser iludidos por falsos profetas, que copiam os sermões de outros sem nem uma única menção. Corramos sempre atrás das fontes. É o melhor jeito de formar as melhores, mais úteis e mais duradoras conexões.

Esse texto me lembrou a QuestionCopyright.org, que é uma organização sem fins lucrativos dedicada a expandir o alcance do debate público aceitável sobre direitos autorais e a reformular a maneira como as pessoas — especialmente artistas e aqueles que trabalham com eles — pensam sobre direitos autorais.

Eles são contra à retórica da indústria que iguala a cópia ao roubo, plágio e abuso ou destruição do trabalho original.

copiar

Recomendo todos a assistirem ao vídeo sobre o assunto, contido no link abaixo. Ele está em português e possui apenas 1 minuto de duração e é uma música.

https://youtu.be/Fjp8nNKRiFs

Legal, não conhecia nem a org e nem o vídeo. Pessoalmente, não sou tão extremo em dizer que pirataria não é crime ou que propriedade intelectual não existe, mas sou adepto da cultura de software livre.

Que incrível inspiração!

Minha forma de olhar a profissão de programador nunca foi a "forma padrão", mas com essas palavras me fez olhar para essa profissão e suas tarefas de forma ainda mais especial.

Agradeço pelo texto, foi de grande valor!

Cara, sensacional esse post! Vejo muita gente distanciando a área de tecnologia da área de humanas, mas na minha opinião as duas estão interligadas. Na área de tecnologia, habilidades de "humanas" como pensamento crítico e interpretação são vitais para o nosso trabalho no dia a dia. A arte de pesquisar, entender e descrever ideias é uma das mais bonitas que já vivenciei, e é por isso que me interessei nessa área. A sede de aprender, o hábito de salvar e organizar as nossas "pílulas de conhecimento" deve ser incentivada e divulgada.

Falou e disse > habilidades de "humanas" como pensamento crítico e interpretação são vitais para o nosso trabalho no dia a dia. E a nossa área está mais perto tecnicamente de humanas do que muita gente pensa. Acho que o elo mais evidente é o estudo de linguagens e semiótica, semântica e ontologias. No mundo de dados, [o conceito filosófico de Ontologia](https://pt.wikipedia.org/wiki/Ontologia) é de extrema relevância na construção de modelos de dados que representem bem o domínio de negócios: https://en.wikipedia.org/wiki/Ontology_(information_science). Em outras áreas como IA, a filosofia bate à porta novamente, oferecendo respostas para as inúmeras questões éticas e morais levantadas.

Muito bom, tem que tomar cuidado também com plágio, que é crime

Dava até pra complementar. Copiar não é roubar. No momento em que precisamos nós inspirar

É um tema bem legal, vale a pena ler essa entrevista.

“Não, copiar não é roubar”: Entrevista com a diretora Lexi Alexander https://judao.com.br/8p-lexi-alexander-uma-garota-nada-popular-em-hollywood/