Os valores de uma empresa importam de verdade?

Eu sei que você acha esse papo de valores bullshitagem. Hoje vou te contar como descobri a importância desse assunto.

Eu nunca consegui me conectar com os lugares em que trabalhei. Depois de anos, entendi o motivo: os valores não batiam.

No Tintim, todos compartilhamos dos mesmos valores. E é isso o que faz a roda girar.

Na edição de hoje da Newsletter do Moa, eu falo sobre por que é tão importante identificar seus valores. Além disso, falo também dos valores que defendemos aqui no Tintim.

A minha dificuldade de trabalhar para os outros

Minha primeira experiência profissional foi aos 15 anos, na empresa de contabilidade do meu tio. Foi algo breve e pontual. Alguns meses depois, um amigo estava deixando seu posto de trabalho numa distribuidora de calçados e me convidou para ficar no lugar. Aceitei.

Me lembro de gostar muito de trabalhar lá, pois eu tinha muita liberdade. Alguns amigos mais velhos, que já trabalhavam em empresas maiores, diziam que não conseguiam acessar vários sites e programas. Eu, por outro lado, conseguia fazer meu trabalho e conversar com meus amigos no MSN.

O tempo foi passando, eu entrei na faculdade e consegui um estágio numa empresa de tecnologia. Lembro, também, de gostar bastante de lá, pois também tinha essa liberdade de não ser supervisionado. A gestão era bem tranquila, tanto que eu conseguia entregar o meu trabalho e ainda fazer alguns freelas por fora. Mesmo com uma "dupla" jornada, minhas contribuições eram destaque no time.

Mas, depois de um tempo, eu cansei de ganhar pouco e não ter benefícios. Além disso e, principalmente, cansei da estagnação e do ritmo lento. Foi quando fui parar numa empresa que era o total oposto do que eu tinha vivido até então. Se antes eu trabalhava em locais em que nenhum acesso era bloqueado, agora eu trabalhava numa empresa que fabricava e comercializava os equipamentos que, justamente, bloqueavam acessos.

Foi uma mudança total de paradigma. Sai do 8 para o 80. Se antes eu tinha tempo para entregar meu trabalho, fazer freela e ainda sair no horário, agora eu trabalhava mais de 10h/dia e ainda sim vivia atrasado no cronograma do projeto. Se antes eu não tinha hora para entrar, agora eu trabalhava de roupa social. Essa foi a minha primeira experiência profissional frustrante.

Hoje, olhando para trás, percebo que, apesar de não enxergar isso de forma racional, sempre senti que não conseguia me conectar com os locais onde trabalhava. Não à toa, me dediquei fulltime a freelas desde cedo. Mas, acredito que, por não conseguir racionalizar esse sentimento, sempre vivi uma sensação de culpa por não conseguir me encaixar.

Não foram poucas as vezes que tentei voltar ao mercado. Mais de uma vez, um trabalho pontual acabou virando uma oportunidade de emprego. Sem dúvidas, sou muito grato a todas essas oportunidades. Em uma delas consegui fazer um belo pé de meia. Em outra, construi praticamente todo o networking que, anos mais tarde, traria os clientes da Codevance. Ainda sim, nunca consegui me conectar com esses locais.

Hoje, depois de um trabalho constante de autoconhecimento nos últimos anos, consigo entender porque nunca consegui trabalhar para outras pessoas.

Primeiro de tudo, sempre tive muita dificuldade em confiar nas pessoas. Hoje, consigo olhar para trás e enxergar a minha dificuldade em aceitar que, ao trabalhar para outra pessoa, eu poderia "perder o controle" do meu futuro profissional.

Quando jovem, apesar de muito brincalhão, era uma pessoa pessimista. Tinha muita dificuldade de acreditar na qualidade moral e técnica das outras pessoas. Para mim, o mundo era infestado de pessoas maldosas e/ou incapazes. "Como vou confiar meu ganha pão nessas pessoas?" De forma inconsciente, segui o caminho autônomo e passei a me interessar por todo o tipo de empreitada que dependesse única e exclusivamente de mim.

Assim eu segui por, aproximadamente, 4 anos, até que fui parar na Python Brasil de 2017. Por lá, conheci o Henrique Bastos e sua trupe do WTTD. No meio dessa galera, conheci, também, o Renzo, que viria a ser meu sócio na DevPro, anos mais tarde.

Num dos vários papos que tive com o Renzo, ele mencionou que havia feito uma mentoria sobre liderança com um antigo amigo, Renard Machado. Disse que a mentoria tinha sido game changer para o seu desafio da época, que era assumir a cadeira de CTO de uma startup. Fiquei interessado no assunto, e ele acabou me recomendando o livro que o Renard usava como base para a mentoria: “O Modelo do Pensador”.

Se você é líder ou deseja assumir uma posição de liderança na sua carreira, esse livro é obrigatório. Aliás, esse livro é obrigatório para qualquer um que esteja comprometido com o autodesenvolvimento. Valha, talvez, um texto somente sobre ele.

Dentre os diversos exercícios práticos propostos pelo autor, teve um, em especial, que me marcou bastante: um exercício de identificação de valores. Ao executar esse exercício, ficou claro para mim quais eram os valores que eu defendia. Ficou claro, também, porque eu nunca consegui me conectar com nenhum dos lugares em que trabalhei.

Por que é tão importante identificar seus valores?

Ao sentar para planejar este texto, eu me propus a um exercício: identificar os motivos pelos quais não consegui me conectar com os locais por onde passei durante minha carreira.

Foram vários os motivos. Não vou citar nomes nem locais por questões éticas, mas, posso afirmar que vi desde problemas simples, até algumas posturas bem questionáveis, moralmente falando.

O primeiro motivo que identifiquei foi a falta de incentivo à ambição. Eu, desde cedo, sou uma pessoa competitiva. Desde que me conheço por gente, estive praticando esportes e, por consequência, competindo. Isso despertou em mim um senso de ambição e vontade de vencer muito forte. Trabalhar durante muito tempo em um local que é praticamente uma repartição pública acabaria com a minha moral.

Burocracia e politicagem são outros fatores que sempre abominei. Apesar da lavagem cerebral esquerdista que sofri na escola e faculdade, o meu espírito empreendedor sempre falou mais alto. Some o esporte, e você tem um sentimento interno de meritocracia muito grande. Depois de adulto, investi bons anos estudando economia e entendendo como, de fato, funciona o capitalismo e a geração de valor. Foi paixão à primeira vista quando tive contato, pela primeira vez, com ideias que falavam sobre liberdade. Puxar o saco de chefe e agradar pessoas que não gosto é algo que agride diretamente meus valores. Perder tempo com burocracia, então?!?

Mas, o que mais me incomodou em alguns dos lugares onde trabalhei foi a** falta de consideração com o colaborador e com o cliente**. No começo, é tudo lindo. Eles dizem que se importam com você. Eles dizem que se importam com o cliente. Você pensa: "meu Deus, isso não é um trabalho, mas sim uma família!". Até que os primeiros indícios começam a aparecer. Falta de consideração com a sua vida pessoal, atitudes antiéticas, assédio moral… De repente, você se vê trabalhando num local que é exatamente o oposto do que você pensava ser. Além do sofrimento em si, você se sente um idiota por ter caído no conto da sereia…

Tudo isso só é muito claro para mim, hoje, porque eu fiz um trabalho sério e profundo de identificação de valores.

Hoje, conhecendo meus valores, percebo que não os encontrei plenamente em nenhum dos locais onde trabalhei. Por isso, a dificuldade em me conectar com esses lugares. No fim do dia, eu estava trabalhando para pessoas que não comungam dos mesmos valores que eu.

Foi por isso que, mesmo de forma inconsciente, resolvi criar o meu próprio trabalho. Primeiro, através de freelas, e depois através da Codevance. É verdade que esse mapeamento de valores veio bem depois. Mas, por mais que eu ainda não os conhecesse, eu já tinha tido experiências o suficiente para saber quais, definitivamente, não eram os meus valores.

Talvez, por esse motivo, a Codevance tenha sido a empresa em que trabalhei por mais tempo (se levarmos em consideração que o CNPJ do Tintim segue sendo o mesmo da Codevance, eu ainda trabalho aqui). Já são 7 anos, mais do que o dobro de tempo do segundo lugar onde mais trabalhei na vida.

Os valores da Codevance são uma extensão dos meus valores. São os valores em que acredito. Por isso, nós somos um time que deu tão certo ao longo do tempo (a grande maioria da liderança está comigo há pelo menos 5 anos). Por eu ser o dono, eu tive a liberdade de escolher como seria nossa forma de trabalho, nossa cultura. Essa forma de trabalho nada mais é do que aplicar esses valores no dia a dia.

Isso é tão verdade que, mesmo eu não tendo esse nível de consciência nos primeiros anos de empresa, ainda, sim, esses valores eram aplicados no dia a dia da empresa. Isso acontece porque é natural. Eu estava simplesmente vivendo.

Como consequência, ao longo do tempo, as pessoas que trabalham aqui e comungam dos mesmos valores que eu ficaram. As que não comungam, acabaram saindo de forma natural e orgânica.

Depois de anos, eu consegui tratar a minha desconfiança crônica e acabei entendendo que, na verdade, não se constroi nada grande sozinho. É por isso que identificar seus próprios valores é tão importante. Já que vamos trabalhar com outras pessoas, que sejam pessoas que compartilhem dos nossos valores. Isso vale tanto para fundadores quanto para colaboradores.

Quais são os valores do Tintim?

Sempre que vou divulgar uma nova vaga para o Tintim, eu faço questão de compartilhar quais são os valores da nossa empresa. Isso é tanto uma mensagem para o candidato quanto um lembrete para nós mesmos.

Sem dúvidas, habilidades técnicas são importantes. Mas, entre uma pessoa boa tecnicamente, mas que não compartilha dos nossos valores, e uma pessoa mediana, mas que compartilha, eu sempre vou ficar com a segunda opção.

Não estamos falando de um sprint. Construir uma empresa é correr uma maratona. No longo prazo, o que vai sustentar nossos relacionamentos profissionais são os valores.

Por isso, esses são os valores que praticamos aqui no Tintim:

Lealdade

Essa história de que o cliente é a pessoa mais importante da empresa é uma falácia. A pessoa mais importante de uma empresa é o colaborador. Aqui nós somos leais a nós mesmos. Gerar valor para o nosso cliente é uma consequência disso.

Grandes resultados se conquistam em time. A liga entre os membros de um time de sucesso é a lealdade.

Autonomia

Somos um time de pessoas que não precisam de babá. Cada um é responsável pela sua entrega, pelos seus horários, pela qualidade do seu trabalho e, principalmente, por conquistar seus resultados.

Nós temos liberdade para errarmos, mas devemos aprender com nosso erro. Nosso lema é liberdade com responsabilidade.

Crescimento

Somos um time de pessoas que querem se desenvolver de forma profissional e pessoal. Hoje, queremos ser melhores do que fomos ontem. Amanhã, queremos ser melhores do que somos hoje.

A capacidade de crescimento de uma empresa é diretamente proporcional à capacidade de crescimento do seu time. Não existem grandes conquistas sem um forte trabalho de autodesenvolvimento.

Ambição

Somos um time de pessoas que querem voar alto. Não nos contentamos com pouco. Jogamos para ganhar, e queremos jogar na série A.

Resultado

Missão dada é missão cumprida. Fazemos o que for preciso, desde que dentro de nossos valores, para conquistar o resultado que foi planejado.

Integridade

O que é errado é errado, mesmo que todo mundo faça. O que é certo é certo, mesmo que ninguém faça.

Não pegamos atalhos para cumprir nossos deveres. Fazemos o que é certo, da melhor maneira possível.

E aí, você já havia parado para pensar quais são os seus valores?

Se nunca fez isso antes, recomendo fortemente que leia o livro “O Modelo do Pensador”. Se você é uma pessoa que se interessa por autodesenvolvimento, sua mente vai explodir!

Abraços


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💪🏻 O meu objetivo com essa newsletter é ajudar profissionais de tecnologia que desejam desenvolver uma visão mais estratégica.

Além disso, pretendo também compartilhar outras coisas, como um pouco dos bastidores da construção de um negócio SaaS, as minhas opiniões e meus aprendizados. A ideia geral é ser uma documentação pública e estruturada dos meus pensamentos e aprendizados ao longo dos anos.

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Acho que meus valores sempre foi bem claro:

  • Estou sendo pago o suficiente para lidar com os outros
  • Todo mundo está fazendo o mínimo

Se tiver esses dois pontos, já dá para relevar