Fazer um produto perfeito é arrogância
Você é uma pessoa arrogante?
Todo programador quer construir o melhor produto possível. Mas o que é o melhor produto possível? Você, como programador, sabe responder essa pergunta? Eu aposto que não!
Na edição de hoje da Newsletter do Moa, eu falo o que penso sobre “construir o produto perfeito”.
“Eu vou construir o produto perfeito”
Eu me lembro exatamente da sensação… Eu tinha reservado a tarde toda para fazer esse planejamento. O dia estava propício: calor, mas nem tanto; sol, mas nem tanto. Celular no silencioso, porta do escritório fechada. Eu podia simplesmente me concentrar e deixar as ideias fluírem.
Eu estava planejando o Tintim 2.0. Já contei um pouco dessa história aqui antes. Eu sabia o que eu queria. Tinha certeza do que precisava ser construído. Quanto mais eu pensava e escrevia, mais empolgado eu ficava.
Se você é programador, você com certeza já teve essa sensação. Sabe quando a gente vai falando e imaginando o software? Imaginando o quão legal será nosso produto? Sabe aquela sensação de que somos gênios? Visionários? Pois é… esse é um dos sinais mais claros de que as coisas estão indo para o caminho errado. Essa foi uma das lições mais valiosas que aprendi com meu amigo Michel Amaral.
Um ótimo produto é sinal de arrogância
O programador, ou o cara de produto, é uma pessoa centrada na solução. Essas são pessoas movidas pelo desejo de construir. Eu sei porque eu também sou assim. Acontece que essa é uma mentalidade perversa… O desejo de querer construir “o melhor produto possível” é genuíno, não tenho dúvidas disso. Mas, a depender da forma como esse desejo se manifesta, ele também pode ser sinal de arrogância.
Você pode até ser capaz de construir o melhor produto possível. Mas, para isso, a ideia não pode ser sua. Pelo menos, ela não pode ser somente sua. Sabe por quê? Porque você não sabe o que o seu usuário quer. Você não sabe quais são os problemas que seu usuário enfrenta… quais são as dores que seu usuário sente. Você pode até supor, mas, saber, você não sabe!
“Construir o melhor produto possível” é algo utópico, idealista. No mundo real, isso não existe. O que existe são problemas e formas de resolver esses problemas. Seu papel é entender profundamente quais são esses problemas e pensar em formas viáveis de resolvê-los.
Construa o produto a quatro mãos
Seus recursos são escassos. Essa é uma das premissas mais básicas da economia (e que o programador adora ignorar). Por mais que muita gente pense o contrário, construir software é caro. Aqui no Tintim, a gente já gastou perto de R$ 1.000.000 com tecnologia. Desses custos, 80% foi com salários de programadores. Detalhe: ainda somos uma empresa pequena e que consegue otimizar muuuuuuito esses custos. A mão de obra para construir software é muito técnica e, por isso, custa muito.
Levando em conta a premissa de que desenvolver software é caro, é lógico pensarmos também que um erro na estratégia do quê desenvolver custa muito caro. Para completar, empresas de tecnologia dificilmente possuem funding. Tecnologia é uma empreitada de risco, e os bancos fogem do risco. Com pouco dinheiro em caixa, a margem para erro é baixa. Isso significa que um erro estratégico pode levar sua empresa para o buraco.
Precisamos mitigar erros, e a melhor forma possível de mitigar esses erros é errando mais. Sim, isso mesmo que você leu: para evitar erros, é preciso errar mais. O segredo está no tamanho do erro. Pequenos erros previnem grandes erros. Em resumo: você precisa testar.
Suas ideias geniais, no fim do dia, não passam de hipóteses. Para que uma hipótese seja verdadeira, ela precisa, antes, ser validada. Quando falamos de produtos digitais, só existe uma pessoa capaz de validar uma hipótese: o cliente.
A inovação deve, sim, sair da sua cabeça, mas, como hipótese, e não verdade absoluta. A construção real do produto é feita a quatro mãos. O cliente é parte essencial nessa equação. Enquanto você é o cara que implementa, o cliente é o cara que valida.
Talvez a palavra certa nem seja construir, mas, sim, iterar. Iterar é muito mais humilde do que planejar. Quando você decide iterar, você assume sua ignorância. Você não precisa lançar algo perfeito. Você só precisa lançar algo bom o suficiente, algo que resolva o problema do cliente. Coloque isso na mão do cliente e aprenda com o uso real. “O cliente vai amar isso” é arrogância. “Vamos ver o que eles acham disso” é o jeito humilde de construir um produto.
No fim do dia, produto é meio, e não fim
Eu nunca vou cansar de dizer isso: tecnologia é meio, e não fim. A tecnologia, o produto, servem apenas a um propósito: gerar valor. Para o cliente, o produto gera valor resolvendo seu problema. Mas, o produto também deve gerar valor para outras pessoas, além do cliente.
Uma empresa possui diversos stakeholders, ou seja, possui várias partes interessadas. O cliente é uma delas, mas existem mais. Fornecedores, funcionários, parceiros, comunidade… todos também são stakeholders. Sócios e investidores, também.
Assim como uma empresa deve servir seu cliente, ela também deve servir todos seus outros stakeholders. A forma como uma empresa serve seus sócios e investidores é lucrando e distribuindo esse lucro.
O “melhor produto possível” não é o que tem a interface bonita, a melhor usabilidade ou a melhor stack tecnológica. O melhor produto é aquele que serve a todos os seus stakeholders. Ele resolve o problema do cliente, mas, também, coloca dinheiro no bolso dos funcionários, sócios e investidores. Esse é o tipo de produto que você deve buscar construir.
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