Acorde! Sua empresa não vale nada

Pelo menos não se você não estiver olhando para essas questões

Eu não escondo de ninguém: meu objetivo é construir e vender o Tintim. É com isso em mente que eu e o time trabalhamos. Mas, para isso acontecer, a empresa precisa ser um ativo de valor.

Na edição de hoje da Newsletter do Moa, eu resolvi contar como eu descobri que minha empresa estava precisando de um CFO.

Eu quero é ganhar dinheiro!

Como eu já contei aqui outras vezes, eu sempre fui muito ambicioso. Eu cresci numa família de classe média baixa, que vivia “vendendo o almoço para comprar a janta”. Paralelo a isso, estudei num colégio “de boy”, e sempre convivi com uma galera que tinha grana. Foi esse contexto que me fez desenvolver essa ambição. Eu conhecia os dois lados da moeda e, sem dúvidas, queria que minha vida acontecesse no lado bom. Pra isso, é preciso dinheiro.

Por sorte, eu me apaixonei cedo por computadores e programação. Com 19 anos, comecei minha carreira em tecnologia, o ramo que mais dá dinheiro na nossa era. Por trabalhar nessa área, eu sempre ganhei bem. Mas, também, eu sempre quis mais. Então, comecei a buscar formas de fazer renda extra.

Já fiz de tudo. Vendi site, vendi sistemas, tive um negócio de brindes fotográficos, comprava e revendia produtos no Aliexpress, comprava e revendia seguidores em redes sociais… Até que eu percebi que não era inteligente dispersar minha energia e foco em várias iniciativas diferentes. Sim, o princípio da segurança é diversificar e não manter todos os ovos dentro de uma única cesta. Acontece que segurança não combina com retornos financeiros. É preciso escolher um dos dois. Eu escolhi o dinheiro.

Eu trabalhei CLT nos primeiros 5 anos da minha carreira profissional, até que percebi que eu poderia ganhar mais se prestasse serviços para mais de um contratante. Os próximos 4 anos da minha carreira foram como freelancer. Foi durante essa época que eu fiz de tudo. Foi, também, depois desses 4 anos, que eu percebi que era besteira ficar atirando para todo lado. Foi quando eu decidi criar a Codevance.

Intuitivamente, mas ainda sem muita clareza, eu estava entendendo como funciona o jogo do empreendedorismo. Primeiro, percebi que eu precisava vender. No começo, vendia minhas horas como CLT para apenas um empregador. Quando percebi o valor do meu trabalho, passei a vender essas horas para mais de um contratante. Até que percebi que, embora eu ganhasse dinheiro, trabalhava bastante. “Como desassociar o tanto de dinheiro que eu ganho com o tanto de horas que eu trabalho?” Simples: parando de vender minhas horas e começando a vender as horas de outras pessoas.

Essa foi a minha primeira experiência tendo uma empresa, de fato. Eu tinha que vender, tinha que entregar, tinha que faturar, tinha que pagar os programadores, tinha que pagar impostos… Muita coisa, né? Pois é… será que valia a pena todo esse trabalho (e todo esse risco)? Sem contar as buchas de ter que lidar com essa intermediação de prestação de serviços. Eu estava ganhando um bom dinheiro. Mas, quanto mais dinheiro, mais dor de cabeça.

“Como ganhar dinheiro sem ter que depender de gente?” Era isso que me perguntava quando eu conheci as maravilhas do infoproduto. Imagina só: você simplesmente grava um vídeo e acabou. O mesmo vídeo pode ser vendido para 1, 10, 100 ou 1.000 pessoas. Seu trabalho, agora, é simplesmente vender. Foi quando virei sócio do Renzo na DevPro.

Até então, essa foi a época que mais fiz dinheiro. Mas, também, foi a época que menos coloquei dinheiro no bolso. Foi quando eu entendi o que eram “recursos”.

Antes, meu recurso era o tempo. Primeiro, o meu tempo, depois, o tempo dos programadores que trabalhavam para mim. Vender horas tem uma margem muito alta. Sobra bastante dinheiro no bolso. Mas, tem uma escala baixa, afinal, as pessoas têm apenas 160h mensais para vender.

Na DevPro, nosso principal recurso não era hora trabalhada. Era dinheiro. Quanto mais dinheiro a gente investia em mídia, mais gente interessada no nosso produto aparecia. Quanto mais gente interessada, mais clientes. Quanto mais clientes, mais dinheiro. É uma maquininha que você coloca dinheiro de um lado e tira dinheiro do outro. Lindo, né? Depende…

O jogo só faz sentido se essa máquina retornar mais dinheiro do que foi investido. Aí você tem lucro. Ah, detalhe: isso é o lucro operacional. Ainda tem uma série de outras despesas, como impostos, funcionários, fornecedores, ferramentas, etc… Só depois de pagar tuuuuudo isso é que sobra um dinheiro. No nosso caso, não sobrava o suficiente. Ou a gente reinvestia no negócio, ou a gente tirava dinheiro pra gente.

Não ganhei dinheiro, mas ganhei o conhecimento mais valioso da minha carreira. Na DevPro, eu aprendi a construir uma máquina de gerar dinheiro. Eu já não dependia mais de vender minhas horas para sobreviver. Mas…

Depois de um tempo operando o negócio, eu percebi que havia altos riscos envolvidos. O primeiro, e mais óbvio, era o risco de a gente investir dinheiro em anúncios e esse dinheiro não voltar. Ou pior: e se esses anúncios parassem de funcionar? Nosso modelo de negócio era inteiro baseado em compra de mídia.

Outro risco enorme era termos um negócio baseado na imagem de uma só pessoa. No caso, o Renzo. E se ele passasse mal e não pudesse gravar? E se acontecesse algo mais grave com ele? E se ele simplesmente ficasse de saco cheio de tudo aquilo? Já era o negócio.

Esses riscos (e alguns outros menores) me fizeram enxergar que, na real, a gente não tinha um negócio. O que a gente tinha era um jeito de fazer dinheiro. Só. Não havia um valor intrínseco nessa operação. Se a gente parasse de trabalhar, o negócio parava. Querendo, ou não, eu ainda dependia das horas de trabalho, minhas e do Renzo, pra poder ganhar dinheiro.

Como ganhar dinheiro sem trabalhar?

Só tem uma forma de ganhar dinheiro sem trabalhar: construindo um patrimônio que gere renda passiva.

Para formar esse patrimônio, existem dois caminhos possíveis. O primeiro é você gastar menos do que ganha e investir a diferença. É o caminho mais seguro. Porém, o mais longo, também. O segundo jeito de formar patrimônio é criando o ativo que vai te gerar renda. Caminho mais rápido, mas infinitamente mais arriscado.

Eu escolhi o segundo caminho.

Por mais que pareça uma decisão arriscada, não é. Pensa comigo: eu, assim como todas as pessoas no mundo que não são herdeiras, tenho apenas um único ativo: o tempo. E ele é escasso. Muito escasso.

Durante muito tempo da minha vida, eu investi meu tempo em ajudar outras pessoas a construírem seus ativos, trabalhando para essas pessoas em troca de uma remuneração. Não me arrependo nem um pouco, afinal, em troca do meu tempo, eu ganhei dinheiro e, principalmente, conhecimento. Mas, em determinado momento da minha vida, eu pensei: e se eu usar esse conhecimento adquirido para construir meu próprio ativo?

Existe, sim, muito risco envolvido. Mas, se você tiver um mindset de crescimento, você entende que esses riscos nada mais são que aprendizados. Olhando por essa ótica, não existe prejuízo.

Na melhor das hipóteses, eu tenho sucesso e construo um ativo com valor suficiente para alguém querer comprar (estou falando de cifras capazes de me aposentar). Se der errado, eu aprendi durante a jornada. Existe valor nesse aprendizado, que pode ser usado em uma próxima empreitada, ou que pode ser vendido, seja em formato de serviço, seja em formato de informação. Não tem downside.

Foi por isso que eu decidi criar o Tintim. O Tintim não depende da minha imagem para ser vendido ou para ser entregue. A margem operacional é altíssima, já que o custo para atender 1 ou 1.000 clientes é muito parecido. É um negócio de tecnologia, que funciona da mesma forma aqui ou na China, e que existem milhões de profissionais capazes de operar e dar manutenção. O Tintim é um ativo. Ou pelo menos, deveria ser…

Descobri que preciso de um CFO…

O Tintim tem 2 anos de existência e o nosso foco, durante todo esse tempo, foi crescer. Não apenas crescer, mas, crescer de forma lucrativa. Como não tivemos nenhum grande investimento institucional, o capital que financia nosso crescimento vem de nossos clientes. Tem dado certo, afinal, estamos chegando perto dos R$ 400k de MRR.

Eu sou muito bom em ter foco, o que significa que eu também sou muito bom em ignorar o que não está no meu foco. Nesses dois anos de operação, eu ignorei qualquer questão burocrática que não fosse urgente.

O resultado disso é que estamos pagando muito imposto. Além do necessário, inclusive. Normal. Ou focamos em eficácia, ou focamos em eficiência. Os dois, não dá. Mas, chegou a hora de rever isso, já que, no tamanho que estamos, qualquer 1% de economia já representa um valor considerável.

Então, no começo de janeiro, fui em busca de uma nova contabilidade que pudesse me auxiliar nisso. Sai pedindo indicações aos meus amigos empreendedores. Perguntei em grupos, e também em minha rede. O Ricardo Corrêa, fundador da Ramper, foi um dos que fui falar.

Numa conversa rápida com ele eu percebi que, na verdade, eu não precisava apenas de uma contabilidade nova. Eu precisava, também, de um CFO. O chief financial officer, mais conhecido como diretor financeiro, é o cara certo para cuidar desse tipo de assunto.

Então, fui bater um papo com um CFO (indicação do próprio Ric) e percebi que, por mais que eu estivesse cumprindo alguns itens do “checklist” necessário para categorizar minha empresa como um ativo de valor, o Tintim ainda não era um ativo.

Apesar de cumprir com todas as obrigações fiscais, a minha “gestão financeira” sempre foi parecida com a gestão financeira de um boteco. O que eu fazia era simples: todo começo de mês eu somava despesa e receita. Deu lucro? Show, vamos reinvestir! Não deu? Vamos olhar para os gastos e ajustar o que for necessário.

Nunca me preocupei com nada relacionado ao departamento contábil e fiscal. Balanço? Balancete? Lucro real? Presumido? O que é isso? Durante todo esse tempo eu só me preocupei em pagar impostos, para me manter dentro da lei.

Que fique claro que não me arrependo. Não há problema nessa postura. Fiz isso de forma intencional, inclusive. Eu fazia o que era necessário ao momento para poder seguir crescendo. No começo de uma empresa, o principal objetivo é sobreviver.

Mas, chegou a hora de olhar pra isso. Nenhum potencial comprador quer saber de planilhas. Qualquer diligência séria, que se preze, vai querer olhar para um balanço, que deve ser feito seguindo uma série de regras e normas, que eu não tenho a mínima ideia de quais são.

Eu não sei, mas o CFO sabe.

O que um CFO pode fazer pela sua empresa

Depois de alguns papos, a gente decidiu contratar a pessoa que o Ricardo indicou (inclusive, fica aqui meu agradecimento público ao Ric, que, apesar das poucas vezes que conversamos, sempre me ajudou MUITO). Essa pessoa veio para botar a casa em ordem.

Mas, especificamente, o que essa pessoa fará pelo Tintim?

Medir (direito) os indicadores financeiros

MRR, Churn, CAC, LTV, NRR, inadimplência, etc… Esses são os indicadores que um possível comprador quer ver.

Eu meço praticamente tudo isso desde que o Tintim começou. Mas, é aquela história… Será que eu meço certo? Um CFO tem a capacidade técnica de fazer essas medições de forma rigorosa.

Planejamento tributário

Talvez aqui esteja o grande ganho de ter uma pessoa técnica e especializada olhando para sua empresa. Não se esqueça que sua empresa opera no Brasil, que é um dos lugares mais complexos do mundo, fiscalmente falando.

Ter um CFO te auxiliando te previne de alguns riscos. O primeiro deles é, sem dúvidas, garantir que sua operação esteja dentro da lei, pagando seus impostos da forma adequada. Mas, também, ele te ajuda a garantir que você não está “excessivamente dentro da lei”, ou seja, que você não está pagando mais imposto do que poderia.

Mitigação de riscos legais

Como estão os seus contratos com clientes? E os distratos? E os contratos com colaboradores? Fornecedores? Existem riscos legais na sua operação?

Um dos papéis do CFO é mitigar os riscos jurídicos da sua operação. Evitar surpresas.

Planejamento financeiro

Se você pretende jogar o jogo do empreendedorismo de maneira séria, imagino que você tenha uma meta a ser buscada. Definir uma meta é uma das coisas mais fáceis do mundo. Como diria o velho ditado: o papel aceita tudo. O difícil mesmo é descobrir o caminho que precisamos percorrer para atingir essa meta.

Em outras palavras, é preciso planejar quanto de recurso você vai precisar investir para atingir sua meta. Esse é o famoso “orçamento”. Um bom CFO vai te ajudar a planejar um orçamento e, principalmente, te ajudar a conseguir os recursos necessários para executar esse orçamento.

Outros assuntos relevantes

Obviamente, a atuação de um CFO não se limita aos tópicos acima. Mais obviamente ainda é o fato de eu ser um completo novato nesse assunto e, provavelmente, estar esquecendo de citar pontos importantes (eu fiz a lista acima baseado no escopo de trabalho que o CFO que contratamos passou pra mim).

As atribuições de um CFO vão além. Ele pode ajudar a analisar/discutir captable. Pode ajudar a gerenciar ativos da empresa, como equipamentos, domínios, marcas e patentes, etc.

Em resumo, o CFO é o cara para lidar com toda a parte administrativa/burocrática de uma empresa.

Entenda o seu jogo

O objetivo desta edição foi dar uma pincelada no assunto e te fazer a seguinte provocação: você entende o jogo que está jogando?

Não existe certo ou errado. Você pode vender suas horas, vender horas dos outros ou vender produtos. Se você quer formar seu patrimônio via acúmulo de capital, ou via construção de ativo, não importa. Se você leu até aqui, imagino que seu objetivo, assim como o meu, seja ganhar dinheiro de forma honesta, idealmente fazendo o que gosta.

A minha provocação é simples. Independentemente do jeito que você está fazendo, faça de forma estratégica.


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💪🏻 O meu objetivo com essa newsletter é ajudar profissionais de tecnologia que desejam desenvolver uma visão mais estratégica.

Além disso, pretendo também compartilhar outras coisas, como um pouco dos bastidores da construção de um negócio SaaS, as minhas opiniões e meus aprendizados. A ideia geral é ser uma documentação pública e estruturada dos meus pensamentos e aprendizados ao longo dos anos.

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