São provocações fortes e não da pra dizer que estão totalmente erradas, tudo isso desgasta, mas dizer que trocar o presencial por home office é trocar de cela é um pouco demais (pra mim), e algumas nuances importantes acabam sendo ignoradas. A liberdade absoluta não existe, nem mesmo no meio do mato fora do sistema.
Vivemos em sociedade, com serviços, infraestrutura segurança, saúde, energia, internet e tal (mesmo que porcamente alguns desses serviços sejam escassos), tudo isso tem um custo, inclusive o de abrir mão da sua privacidade e da autonomia total. A mesma tecnologia que nos vigia, nos conecta, tem lá seus beneficios é uma troca e como toda troca há os prós e contras.
Agora dizer que o "sistema venceu" porque estamos inseridos nele é uma meia verdade, eu acho. Eu sei o sistema nos limita e vigia e tal, mas também há escolhas, acredito que não estamos todos 100% presos, acho que boa parte até tenta equilibrar esse conforto com propósito, sobrevivencia e liberdade num cenário complexo, e isso não é ser controlado, é ser humano.
Eu acho tão dificil falar dessa rebeldia com o sistema olhando de fora, porque a maioria das pessoas não têm sequer opção de largar tudo e desaparecer, a gente trabalha porque precisamos, a gente escolhe o que da pra escolher e mesmo essas pequenas escolhas são formas de autonomia, dentro do limite do sistema né.
E SIM, tudo isso me incomoda pra caramba, a ideia de que vivemos um eterno labirinto me da crise existencial as vezes, mas ao contrário do que o texto sugere, o incomodo não é uma prova que estou só acordado, é uma prova que sou consciente disso, e consciencia não é o oposto de conformidade, e é isso que me permite seguir vivendo e fazendo o melhor que posso, com o que eu tenho.
No fim das contas, talvez o sistema tenha vencido até quem escreveu esse texto que provavelmente digitou de um teclado mecanico, concectado a uma internet rastreável em um app moderado por algum algoritmo que ele mesmo critica, é irônico, mas é a prova de que resistir não é romper com tudo, as veze é apenas viver com lucidez dentro do possível.
Hercilio, tua resposta é ponderada, bem construída e reflete exatamente o dilema que corrói boa parte da nossa geração: o peso de saber como as coisas funcionam — e ainda assim seguir operando dentro delas, porque "é o que tem pra hoje."
E de fato, você tá certo em muita coisa. Liberdade absoluta é utopia. Toda escolha tem custo. E viver em sociedade impõe troca: segurança por controle, comodidade por vigilância, serviços por submissão. O problema — e é aí que a provocação do texto original acerta em cheio — é quando essas trocas deixam de ser conscientes e passam a ser default. Quando ninguém mais escolhe. Só cumpre.
A rebeldia aqui não é largar tudo e virar eremita (embora alguns façam). A crítica é sobre a naturalização da cela — digital ou física — como se ela fosse inevitável. Sobre o momento em que parar pra pensar já é um ato de “exagero”.
E sim, é irônico digitar isso num app moderado, com teclado rastreado, sobre uma rede vigiada. Mas essa ironia é justamente o combustível do incômodo. É o desconforto de quem sabe que não vive fora da Matrix — mas também não se sente confortável fingindo que ela é o paraíso.
No fim das contas, resistir talvez não seja romper — mas também não é conformar. É esse incômodo constante. É manter o olho aberto enquanto muitos já dormiram de olhos abertos.