Como criar uma startup do zero - por um jovem de 20 anos

Há um bom tempo fiz um artigo sobre como ter sucesso na carreira de desenvolvedor de software. Um ano e meio depois, resolvi falar um pouco sobre como iniciar um negócio em tecnologia - do zero, sem capital acumulado.

Comecei a empreender aos 20 anos, retomando um TCC de três anos atrás em meio à inércia dos esforços para me recolocar no mercado de trabalho, e criei a deeptech de impacto social ReachUp! - onde atualmente acumulo as funções de Founder e CEO.

O primeiro passo é analisar o mercado: elencar os principais concorrentes diretos e indiretos, e definir seus diferenciais. Se você resolver o problema da mesma forma que ele já é resolvido, utilizando os mesmos processos de trabalho ou as mesmas estratégias de marketing e vendas, dificilmente sua empresa terá espaço no mercado (e acima de tudo: defina bem o problema antes de buscar por uma solução). Ferramentas como o "Oceano Azul" e "Design Thinking" podem ajudar, além de pesquisas com seu público-alvo. Essa análise de mercado nunca termina: você sempre precisa considerar o que os outros estão fazendo - como defendia Jean-Paul Sartre, "o inferno são os outros".

O segundo passo é elaborar um pitch deck. Pode ser bom ter versões separadas, uma para investidores e outra para potenciais clientes. Personalize-o sempre, de acordo com as estratégias de comunicação, e mantenha-o atualizado conforme o negócio evolui. Ele é tão importante para uma startup quanto a documentação é para um software. Veja como exemplo uma versão antiga do pitch deck da ReachUp! (link no artigo original postado do LinkedIn): o primeiro slide define o problema, em frases curtas e de impacto; em seguida, a solução é mostrada da mesma maneira; depois, o tamanho do mercado. Mais a frente, são exibidas as funcionalidades do produto que efetiva a solução, traduzindo as necessidades de negócio e resolvendo as dores do cliente ou usuário final; além de informações sobre o modelo de negócios e vantagens competitivas. Procure o pitck deck do Uber, Buzzfeed ou Facebook e inspire-se!

Agora que você já tem uma ideia de negócio mais estruturada, sua startup pode precisar de investimento para iniciar as atividades, visto que você não possui capital acumulado. Você pode tentar investimento-anjo pela Anjos do Brasil, ou via crowdfunding ou seed, por exemplo. Por experiência própria, pode ser bem difícil conseguir investimento, mesmo com um MVP pronto para ser lançado no mercado em um cenário real. Mas não desista fácil: busque incubadoras, aceleradoras e agências de fomento, como a FAPESP (programa PIPE - Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas), a Incubadora da USP (programa DNA - para deeptechs, no qual estamos aprovados para a fase 2 este ano) e o Inova Centro Paula Souza. Dê um jeitinho de entrar em contato com a academia sem necessariamente ser universitário. Encontre as oportunidades que melhor se apliquem ao seu negócio, não tenha medo de enviar mil propostas e atente-se aos editais. Fique de olho nos incentivos federais, estaduais e municipais e nos conteúdos do Sebrae. Você também pode conseguir apoio da Microsoft facilmente.

No início, seu primeiro cliente não irá pagar por sua solução. Se for o caso, os usuários finais também não irão gastar dinheiro com algo que eles não sabem que funcionam. Por isso, lance seu MVP de forma gratuita, estabeleça em contratos com clientes períodos de teste com possibilidade de rescisão sem prejuízo. Conquiste confiança e utilize loops de feedbacks. Escute os problemas e adapte sua solução a eles, ao invés de inventar problemas que não existem. Acompanhe seus prospectados por uma trilha até que eles se tornem clientes. Se seu negócio engloba tecnologias disruptivas, o que é o caso da ReachUp!, pode ser mais difícil se inserir no mercado, mas pense por outro lado - eu poderia focar em IA ao invés de IoT, por exemplo (apesar daquela ser aliada desta em nossas soluções), mas estou no meio de uma mina de ouro pouco explorada.

Por fim, e importante para todo empreendedor iniciante - faça networking! Participe de eventos do seu nicho, aplique para os programas da Campus Party Brasil (como o Startup 360° em parceria com o Sebrae, por meio do qual a ReachUp! se lançou ao mercado), faça mini-pitches de segundos mas que valham milhões e não "centavos", aprenda a vender sua ideia e estabeleça contatos com potenciais clientes, parceiros com presença no mercado e pessoas influentes na política. Mantenha sua rede social profissional e as da startup atualizadas, acostume-se a enviar emails e solicitar reuniões. Mas cuidado: não seja chato ou desesperado. As pessoas precisam te levar a sério, e pra isso você precisa levar seu negócio e você próprio a sério. Nunca diga que você tem "qualquer horário" do dia disponível para outra pessoa, e isso vale pra vida.

Conselho do DJ (esse é meu apelido): empreender não é fácil, e com grandes poderes vêm grandes responsabilidades. Além disso, você pode se dedicar bastante, fazer tudo certo e ainda sim tudo pode dar errado. Mas quem nunca errou, nunca tentou. No pior dos casos, você fará novas amizades, aprenderá coisas novas e terá uma experiência antropológica magnífica que alterará a química do seu cérebro!


Este artigo levou duas horas para ser escrito, e seu engajamento me motiva a continuar criando conteúdo para a comunidade. =P

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