O programador Jaiminho

Estava aqui lendo sobre "vibe coding", desenvolvimento acelerado e o uso massivo de Inteligência Artificial na programação, e lembrei que há 2 anos o matheuspazinati publicava aqui no TabNews uma genial analogia — "O programador Chaves", que gerou muitas reflexões, e que culminou inclusive nesse vídeo do Filipe.

Inspirado naquela analogia, parece na verdade que hoje tem surgido o Programador Jaiminho.

Se você se lembra do Jaiminho, o Carteiro, seu lema era: "É que eu quero evitar a fadiga". Jaiminho sempre buscava o mínimo esforço possível, repete essa frase em várias cenas, e às vezes até usava os outros pra fazer o seu trabalho!

⚠ Não seja um Jaiminho da IA

Você com certeza percebeu o boom de ferramentas de IA que geram código — Copilot, ChatGPT, Gemini e tantas outras. Elas são ótimas: aceleram tarefas repetitivas e funcionam super bem como copilotos no dia a dia. Tá impossível não perceber o boom dessas ferramentas, e a tendência está sendo valorizar a velocidade de entrega: "entrega rápido, depois a gente vê".

Não quero nem entrar na questão do uso no contexto de trabalho, que dá pra gerar infinitos debates sobre segurança, escalabilidade e tudo mais. Mas quero entrar no grande problema disso tudo para o seu APRENDIZADO. Porque aqui mora um enorme perigo: A tentação de usar essas ferramentas não como assistentes, mas como substitutos do nosso raciocínio, apenas para fazer mais rápido e... evitar a fadiga. Terceirizando para IA o raciocínio, a geração de ideias novas, e a realização de tarefas que seriam essenciais pro nosso aprendizado.

Como a "vibe" é entregar rápido, você descreve o problema para a IA, pega o código gerado, copia e cola, talvez faça uns ajustes mínimos até passar nos testes ou funcionar do seu jeito. Pronto, tarefa "entregue"! Você evitou a fadiga de quebrar a cabeça, pesquisar documentação, pensar na lógica, testar por conta própria...

Detalhe que a gente já fez muito isso com o Stack Overflow. O problema é você não entender por que aquele código funciona, quais as implicações, os casos extremos, ou como ele interage com o resto do sistema.

E aí...se um bug sutil aparecer depois, ou se o requisito mudar um pouquinho, você terá que pedir tudo de novo para a IA, talvez recebendo outra solução "mágica" que também não entende (o proxy burro que o Filipe explica aqui). Você não aprendeu a programar aquela solução, aprendeu apenas a pedir para a IA gerar algo naquele contexto específico. Onde está seu estudo e aprendizado de fato?

E pra te convencer ainda mais, quero que entenda que a neurociência enfatiza que APRENDER é um comportamento ATIVO, e não passivo. Ou seja, o engajamento ativo, que exige esforço mental, é crucial para que as informações sejam armazenadas de forma eficaz no cérebro.

Além disso, a prática de testar o conhecimento, fazer por conta própria, se lembrar de um conteúdo sem consultar material (Retrieval Practice) é muito eficaz para a fixação do aprendizado. Essa prática ativa o cérebro de maneira mais profunda, consolidando o aprendizado de forma duradoura. Mas estamos terceirizando justamente essa prática pra IA, e já queremos pegar respostas prontas.

Você não está aproveitando esses momentos, deixa de pensar por conta própria, e a cada erro você quer que a IA já resolva pra você sem nem se dar o trabalho de solucionar por conta própria. Durante os erros, você está deixando passar uma excelente oportunidade de aprender de forma ATIVA. Erros são fundamentais, e em vez de serem vistos como falhas, eles servem como feedback valiosos, guiando seu aprendizado!

Estudar de forma mais ativa vai exigir muito esforço — aquela "fadiga" que o Jaiminho tanto evita! Mas é esse esforço que constrói conhecimento sólido e te torna um desenvolvedor melhor, e não apenas um "copiador de código de IA".

Podemos, claro, aprender a programar usando as ferramentas modernas que ajudam a esclarecer muitas coisas. Mas aprender a programar usando IA apenas para evitar a fadiga de entender, raciocinar, e buscar por conta própria é ser um Programador Jaiminho.

Aproveitando, gostaria de entender e saber como você está usando IA no seu dia a dia de forma produtiva e consciente?

Abraços,

Gabriel.

⚠️ Aviso importante antes de prosseguir: Sou velho, sim senhor(a)! Nascido na gloriosa década de 70, aquela em que o vinil era rei, a TV ainda era preta e branca (ou quase), e o máximo de interatividade era bater na lateral da televisão pra melhorar o sinal. Enquanto a maioria de vocês já nasceu cercada por computadores, wi-fi e memes, eu vi essas tecnologias nascerem — tropeçarem, gaguejarem, e finalmente aprenderem a correr.

Tá bom, confesso, já existiam rádio e televisão. Mas o resto? Alta tecnologia só em laboratórios secretos com cientistas de jaleco, testando coisas com nomes complicados e luzes piscando. Pra nós, pobres mortais, tecnologia era o radinho de pilha e o liquidificador da vó.

Agora, segura essa viagem no tempo: vamos voltar muuuito, mas muito antes, tipo modo idade da pedra ativado. Lembra do homem coletor e caçador? Pois é, lá estava ele (ou ela, claro), catando frutas e correndo atrás de comida, quando percebeu algo revolucionário: as sementes que ele esqueceu no chão... viraram plantas! 💥 Pá-pum, nasce a agricultura — uma baita inovação tecnológica da época!

Foi aí que o ser humano fez seu primeiro update de versão: deixou de ser nômade e virou agricultor. Plantava, colhia, comia... e de quebra, teve tempo pra inventar outras coisas como a roda, a escrita e, eventualmente, a pizza com borda recheada.

Costumo dizer que: O homem cria a tecnologia, e a tecnologia reinventa o homem. Depois que você experimenta o "modo eficiente", não tem mais volta.

Claro, ainda existem por aí uns caçadores e coletores modernos — gente raiz, guerreira, que planta, colhe, caça e pesca. Mas convenhamos, a maioria de nós foi seduzida pela praticidade. Afinal, por que sair correndo atrás de comida se você pode pedir pelo app e ainda ganhar cashback?

Milhares de anos passaram e o padrão se repetiu como se fosse um código maluco rodando em loop:

Agricultura → Escrita → Bronze → Dinheiro → Máquinas a vapor → Eletricidade → Rádio → TV → Computador → Internet → Google → ChatGPT 😎

E a pergunta continua ecoando, geração após geração, tipo aquele bug que ninguém corrige no sistema: Devemos usar essa nova tecnologia? (Hoje conhecida como IA, Realidade Aumentada, Blockchain, ChatGPT, TikTok...)

Spoiler: essa tecnologia nem é tão nova mais. E sim, ainda tem gente querendo programar em Basic e Cobol, como nos bons velhos tempos. Mas sejamos sinceros, jovem padawan... 👉 Já cruzamos o horizonte de eventos. 👉 Já entramos na zona sem retorno.

Como diria o filósofo contemporâneo Jaiminho, o carteiro:

“É melhor evitar a fadiga.”

A tecnologia veio pra ficar. E cada vez que ela muda, muda a gente junto. A única certeza é essa: o ser humano inventa a tecnologia… e a tecnologia reinventa o ser humano. E lá vamos nós de novo, embarcando na próxima revolução digital com um misto de medo, fascínio e aquele velho hábito de deixar tudo pra última hora.

Sim, sua observação foi muito bem colocada! E isso sem contar com a memória muscular, que é muito importante no desenvolvimento, e com esse uso massivo de IAs e ferramentas de 'copilot' em geral, isso está sendo cada vez mais deixado de lado por muitos.

Pra ser sincero, hoje eu acho impossível desenvolver algo útil só copiando e colando do Copilot ou GPT.

Agora se for código para CodeWars ou Leetcode ou aqueles códigos de faculdade, essas IAs são suficientemente boas.

Amigo, você já está desatualizado. Não precisa mais copiar e colar, hoje (AGORA) tem ferramentas que sabem o contexto do sistema que você ta programando, e gera, ajusta, cria testes. Ta muito mais automático e confiável. Eu uso no meu trabalho, e a empresa ainda incentiva. Começa a correr atrás, pois esse trem ta muito rápido, e ta dificil de acompanhar.
Você fazer o que uma IA sugere pra você é análogo a copiar e colar. Cara, desculpa, mas você falar isso diz muito sobre a senioridade que você tem. Pra quem não sabe nada, um cursor da vida realmente pode fazer algo e ser ágil, mas no momento não é eficiente e "pra frente" como você diz.
O tempo irá dizer.
Tão chamando o Jaiminho de Vybe coding. Essas IAs e Jaiminhos vão produzir tanto código ruim que quem souber dar manutenção continuará tendo emprego. Fora que TI não é só escrever código e , por enquanto, essas ferramentas são mais desculpa pra reduzir quadro de funcionários nas Big Techs. Talvez tenham exagerado nas contrataçoes há 2-3 anos atrás. Ajudam? Ajudam muito. Utilizo diariamente para relembrar comandos e código. Mas não entram em calls, aturam cliente chato, sobem hotfix na produçaõ... e por ai vai.