Carta aberta aos que não tem talento para programar.
Querido dev,
Se você, como eu, é um programador comum e sente que não tem o dom natural para programar, que nasceu sem talento e por esse motivo que existem outros programadores bem melhores, esta carta é para você.
Frequentemente, temos a impressão de que algumas pessoas receberam um tipo de bênção divina para programar — um talento inato que os faz programar em 10x e capaz de resolver qualquer problema. Nos sentimos incapazes de atingir esse nível, nos conformamos com a nossa suposta falta de “talento”, colocamos outras pessoas de tecnologia em um pedestal e aceitamos nossa mediocridade (uma pessoa mediana).
Gostaria de te ajudar a tirar essas pessoas do pedestal, e a entender o que nos separa daqueles que vemos como especiais no mundo da tecnologia: MOTIVAÇÃO.
É fácil se deixar levar pela admiração das habilidades técnicas de alguém, sentindo-se inferior e atribuindo o título de “gênio” ou “pessoa super talentosa” a outros.
E sinceramente? Talento é superestimado e não é uma qualidade pela qual gostaria de ser reconhecido. Afinal, todos já ouvimos falar de pessoas com muito "talento" que, no entanto, não alcançaram o “sucesso”.
Essa forma de pensar pode ser perigosa, pois nos leva a acreditar que essas pessoas são magicamente especiais, que nasceram com um dom inato e que seu sucesso — seja lá o que isso significa pra você — não foi conquistado apenas porque a pessoa não se esforçou ou porque direcionou seus "dons divinos" no caminho errado.
Acreditar apenas nisso pode nos levar a nos conformarmos com nosso nível atual e nossas capacidades, limitando nosso potencial de crescimento.
E aqui eu não me refiro a pessoas superdotadas que demonstram desde criança aptidões excepcionais. Essas pessoas são um assunto à parte. Não me interprete mal, amigo. Logicamente acredito sim que existem pessoas com capacidades incríveis e até mesmo geniais, mas essa genialidade não é algo que reside unicamente em seu DNA. Para mim, a diferença crucial está em como essas pessoas entendem e utilizam suas capacidades de maneira mais eficaz.
No entanto, mesmo assim, não atribuo todo o mérito apenas a elas (e explicarei o porquê mais adiante).
A comparação e o contexto.
A pior coisa que você pode fazer nesse momento é se comparar constantemente com os outros. Cada um tem sua própria história, seus próprios desafios e limitações. E aqui está um segredo importante sobre muitos dos "gênios talentosos" que você admira: muitos deles têm algo que a maioria de nós não tem hoje: TEMPO LIVRE. Enquanto isso, você se compara a eles em meio a uma vida corrida, equilibrando trabalho, família e outras responsabilidades. Imagine um pai ou mãe de família que trabalha em tempo integral, precisa cuidar dos filhos, da casa e ainda encontrar tempo para estudar e praticar programação. Essa realidade é muito diferente da de alguém que pode se dedicar às vezes integralmente aos estudos e projetos.
Além do tempo livre, é comum que essas pessoas tenham acesso a recursos que a maioria não possui, conheçam as pessoas certas, tenham a sorte de estar no lugar certo na hora certa, desfrutem de um ambiente favorável ou venham de famílias que facilitam sua trajetória. Tudo isso às vezes desde quando eram crianças. Isso é crucial, impulsiona o aprendizado e oferece oportunidades significativas que fazem toda a diferença para se tornarem pessoas "talentosas" ou habilidosas, capazes de criar coisas incríveis para a sociedade. E isso é maravilhoso!
Portanto, aqui vai mais uma dica: toda vez que você ouvir histórias de pessoas excepcionais e se sentir distante delas, examine os fatos com mais atenção e procure entender a história e o contexto completo da construção dessas pessoas. Você se surpreenderá.
É claro que não podemos tirar o mérito de ninguém, pois ter todas essas vantagens e não aproveitá-las seria um grande desperdício de oportunidades, e elas merecem os créditos por direcionar esse esforço para um caminho certo, e se dedicarem a isso.
Cuidado com estes 3 enganos comuns.
Mesmo assim, aqui a gente se engana com 3 coisas:
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Atribuímos mérito exclusivo a "gênios" talentosos. Criamos imagens idealizadas de pessoas geniais, atribuindo todo o mérito de suas criações exclusivamente a elas, quando na verdade, muito do que vemos é fruto de modificações e inspirações em trabalhos de muitas outras pessoas. Entender isso nos conecta como humanos e traz de volta à “terra” figuras que são colocadas quase como semideuses. O que quero dizer é que deveríamos enaltecer muito mais o desenvolvimento do nosso conhecimento como espécie. O conhecimento é a consolidação de anos de estudos e pesquisas que envolvem muitas pessoas que realizam trabalhos significativos em diversos lugares, construindo conhecimento sobre conhecimento, um sobre o outro.
"Se você quer fazer uma torta de maçã do zero, primeiro você deve inventar o universo." - Carl Sagan (Cosmos)
Principalmente em programação, já temos padrões definidos para muitas coisas, e anos de maturidade e código documentado, publicamente disponível para consulta e uso. Ou seja, nada hoje é original do zero, e muito do que vemos de alguém é cópia, modificação, replicação ou melhoria. E isso é incrível porque podemos economizar anos aproveitando o trabalho de outras pessoas do passado e aprender com elas, usando a história dessas pessoas e sua produção de conhecimento como “professores”. É por isso que inovações e formação de ideias, teorias e conceitos não são méritos exclusivos de uma única pessoa. E é por isso que acredito profundamente que conhecimento e informação devem ser irrestritos e não propriedade de ninguém. Livres para a humanidade, permitindo que evoluamos a partir do que já existe.
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Confundimos talento com experiência. Não se iluda quando alguém disser que conquistou determinada coisa apresentando um método mirabolante. Acredite, tem muita gente que esconde o verdadeiro processo que passou, a fim de apresentar fórmulas milagrosas que não foram usadas de fato. Muito do que vemos nas pessoas e suas criações ou habilidades é produto de anos de experiência e paciência. Devemos valorizar o tempo, mesmo que isso não tenha necessariamente relação com qualidade. Muito do que vemos é a consequência do tempo e da exposição a muitos erros e códigos (trazendo para o mundo da programação). Reconhecer isso é essencial para evitar a frustração de buscar conquistas fáceis, rápidas ou sem esforço. E aqui eu faço um gancho para a terceira coisa:
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Assumimos que disciplina e esforço são suficientes. Assumir que disciplina, esforço, persistência, força de vontade ou anos de experiência são suficientes para alcançar um suposto talento, genialidade ou sucesso em alguma coisa é um tremendo engano! Veja, eu disse que não é suficiente, o que é diferente de dizer que não é necessário. Acreditar apenas em trabalho duro é ignorar diversos outros fatores. Acredito sim que existem pessoas especiais que aproveitam muito bem o que têm de melhor. Mas, além disso, é essencial entender o fator determinante de muitas dessas pessoas de sucesso ou que colocamos no pedestal: essas pessoas se dedicaram obsessivamente a algo por causa de um ponto crucial — MOTIVAÇÃO. Persistência e determinação sozinhos NÃO são suficientes, é necessária motivação — muito mais que disciplina.
Na verdade, muitas pessoas que vemos como "talentosas" são aquelas que têm uma motivação muito clara e presente e que mantêm um comportamento guiado por um objetivo (que depende da liberação de dopamina, como explicarei mais adiante). Frequentemente, confundimos essa motivação com disciplina. Mas, na realidade, uma pessoa que chamamos de "muito disciplinada" é, na verdade, uma pessoa hipermotivada.
O poder da motivação (e um pouco de Neurociência).
O que realmente diferencia essas pessoas é a busca incessante por estudo, e essa busca é impulsionada pela motivação. No processo de aprendizado, a motivação é fundamental. Diferente de apenas se sentir feliz ou animado, motivação é ter um motivo claro para a ação. Entender como a neurociência explica a motivação nos permite aplicá-la de forma prática nos estudos. Aprender exige persistência, e a motivação é a chave para manter essa continuidade.
É comum termos uma noção equivocada sobre motivação. Geralmente, associamos motivação à empolgação, à felicidade, à euforia, a um estado constante de alegria. E aí ouvimos que é preciso estar motivado sempre, mas se motivação fosse apenas isso, seria impossível manter esse estado o tempo todo.
Entenda sempre motivação como o que o termo realmente significa: um motivo para a ação.
A motivação, do ponto de vista da neurociência, faz parte de um mecanismo dopaminérgico. Faz parte do nosso sistema de recompensa.
Quando reconhecemos uma recompensa e temos a expectativa de obtê-la, liberamos um neurotransmissor que você já deve conhecer e eu citei mais acima, chamado dopamina. Ao contrário do que muitos pensam, a dopamina não está mais presente no prazer em si. Liberamos mais dopamina na verdade quando temos a expectativa da recompensa, e ela está muito mais relacionada à busca pela novidade. Ou seja, nos sentimos mais motivados (liberamos mais dopamina) na expectativa de uma recompensa, e não necessariamente ao recebê-la.
Então, perceba que a dopamina está ligada à busca por algo que queremos e que sabemos que pode ser prazeroso, satisfatório.
Alerta importante: Essa recompensa nem sempre precisa ser algo positivo para nós. Por exemplo, quando queremos fugir de algo que gera desconforto e entendemos como uma ameaça, também liberamos dopamina. Criamos um padrão de esquiva e corremos o risco de desenvolver um hábito disfuncional. Por exemplo, é "prazeroso" fugir de uma conversa difícil ou evitar uma tarefa desafiadora, nesses momentos sentimos alívio e um certo prazer ao fugir (padrão de esquiva), mas a longo prazo isso pode ser prejudicial.
É plenamente possível e comum que a motivação também esteja presente na tristeza, no desânimo, em um estado deprimido ou em um estado de raiva. Por exemplo, uma pessoa deprimida pode estar motivada a buscar ajuda, ou alguém com raiva pode estar motivado a confrontar uma injustiça. Isso mostra que a motivação não está necessariamente ligada a um estado de ânimo sempre positivo.
Entender o mecanismo da motivação é fundamental, porque PROGRAMAR pode ser altamente RECOMPENSADOR. E aqui reside a chave de tudo, o segredo de muitas pessoas, que não é "talento" inato.
Qualquer comportamento que envolva resolver algo ou aprender algo para solucionar um problema é RECOMPENSADOR. E é por isso que nos movemos até resolver o problema e conquistar a recompensa.
O ciclo da recompensa dopaminérgica.
Isso acontece porque o nosso sistema dopaminérgico funciona basicamente em 3 passos:
- Gatilho: É o estímulo inicial, o que desperta a nossa atenção e nos faz pensar em uma possível recompensa. Pode ser um problema a ser resolvido, uma nova tecnologia interessante, ou até mesmo a simples ideia de aprender algo novo.
- Trabalho (Esforço): É a ação que tomamos para alcançar a recompensa. Envolve estudo, prática, resolução de problemas, e todo o esforço necessário para dominar uma habilidade ou atingir um objetivo.
- Recompensa: É o resultado que buscamos, a sensação de conquista e satisfação ao alcançar nosso objetivo. Pode ser um projeto concluído, um problema resolvido, um novo conhecimento adquirido, ou até mesmo o reconhecimento de outras pessoas.
E aqui já podemos tirar algumas conclusões importantes:
- Precisamos entender e conhecer a recompensa. Quais são os benefícios de aprender a programar? O que você quer conquistar ou resolver com essa habilidade? O que te motiva? Uma carreira promissora, estabilidade financeira, a capacidade de criar coisas incríveis? É importante saber o que é possível fazer com a programação e buscar informações na área para conhecer as recompensas que a tecnologia oferece. Por exemplo, você pode começar praticando pequenos projetos para entender a sensação de criar algo funcional e útil.
- Liberamos a maior quantidade de dopamina no gatilho. É nesse momento, quando temos a predição da recompensa, ou seja, a expectativa, que nos sentimos mais motivados para realizar o esforço. A antecipação da recompensa é mais poderosa do que a recompensa em si.
- Se a expectativa da recompensa é onde liberamos mais dopamina, como vamos nos sentir motivados se não conhecemos a recompensa? Você precisa experimentar! Comece com pequenos projetos, participe de desafios de programação, explore diferentes áreas da tecnologia. Por exemplo, tente criar um site simples, um jogo básico ou um aplicativo para resolver um problema do dia a dia. Ao experimentar, você terá uma ideia mais clara das recompensas que a programação pode oferecer.
- Quando o estado de motivação está presente, realizamos o esforço, o trabalho, para conquistar a recompensa. É a motivação que nos impulsiona a estudar, praticar e superar os desafios.
- Se você não conhece a recompensa, por que faria o esforço para obtê-la? Sem uma recompensa clara em mente, é difícil encontrar a motivação necessária para se dedicar ao aprendizado e à prática da programação.
Portanto, só estaremos dispostos a realizar o trabalho e o esforço se estivermos motivados. E para termos motivos e liberarmos dopamina, precisamos ter a predição da recompensa, a expectativa. Mas como ter essa expectativa se não conhecemos a recompensa?
Se não tivermos isso alinhado, dificilmente vamos manter a motivação para ter a famosa “disciplina”. Entenda que a motivação é mais importante que a disciplina, porque para ter disciplina, a motivação sempre estará presente, apesar de ser possível obter prazer mesmo sem dopamina.
E quando temos projetos de longo prazo, que envolvem muito estudo e aprendizado, para manter o comportamento motivado e guiado por um objetivo, será necessário recompensar-se subjetivamente (explicarei daqui a pouco), alinhando a expectativa com a realidade.
É importante notar que muitos programadores considerados "talentosos" e "gênios" da tecnologia são, na verdade, pessoas que possuem uma motivação muito forte, buscam recompensas constantemente e estudam e praticam muito, exatamente como descrevi até aqui. Eles não são diferentes de você, apenas aplicam esses princípios — mesmo sem saber.
Referências, metas e objetivos.
Precisamos sim ter referências, olhar para o futuro, buscar nos superar, mas sempre conscientes de nossos objetivos e do nosso próprio ritmo.
É importante saber que não há nada de errado em estar na média. Mas é fundamental ter a noção do que ainda não sabemos, do que falta aprender. Curiosamente, quanto mais aprendemos, mais expandimos nosso potencial e mais entendemos a vastidão da nossa ignorância. Percebemos o que existe, o que ainda não sabemos, e é nesse momento que temos MOTIVAÇÃO (falarei daqui a pouco sobre a motivação nos estudos), e é um momento excelente para buscar sair da média.
Podemos definir referências e ter a noção de quão longe ou perto estamos delas. A referência pode ser alguém que você admira, mas também pode ser uma posição na carreira, um conhecimento específico, um projeto desafiador, etc.
É interessante que tentar alcançar um objetivo faz você admirar quem chegou naquele alvo. Essa admiração é muito mais sincera, porque você está trilhando o caminho, conhecendo os desafios, e não mais admirando cegamente.
Motivação, então, seria ter bons motivos, motivos sólidos para agir. É ter um excelente motivo para a ação. São suas razões, para conseguir a recompensa — que pode ser muitas coisas. E para ter essas razões bem claras e fundamentadas, é preciso buscar informações, estudar, entender o contexto e as possibilidades. Quanto mais você conhece o campo da programação, mais motivos encontrará para se manter motivado. E a dopamina é basicamente a motivação que temos para gerar um prazer, a recompensa. E a partir daí, estamos dispostos a realizar o esforço necessário para isso.
A partir disso, é bem provável que criemos objetivos claros. Por exemplo: "Aprender uma linguagem até o final do ano", "Contribuir para um projeto open source", "Criar um aplicativo simples para resolver um problema específico". Com um objetivo bem definido, começamos a buscar um COMPORTAMENTO guiado por OBJETIVOS. E para que isso ocorra, precisamos necessariamente de MOTIVAÇÃO.
Mas cuidado! Precisamos de metas claras e honestas, que sejam realistas e alcançáveis.
Motivação no aprendizado: A chama da curiosidade.
No mundo da tecnologia e programação, por exemplo, o desconforto de não saber pode ser um excelente motivo para agir. Esse desconforto gera a vontade de buscar a recompensa de conquistar o conhecimento ou a habilidade. O prazer em satisfazer a necessidade de entender como as coisas funcionam por trás dos panos pode ser outra grande recompensa. E é isso que sustenta o nosso comportamento e nos mantém aprendendo constantemente.
E aí especialmente na área da aprendizagem, quando estudamos, a motivação precisa estar presente, pois ela surge quando o cérebro detecta uma lacuna, um espaço entre o que já sabemos e o que gostaríamos de saber. Essa lacuna representa um aprendizado potencial.
Basicamente, o que temos aqui é a curiosidade. E é essa curiosidade que muitos dos "talentosos" e pessoas de destaque possuem. Os "talentosos" da programação se mantêm sempre aprendendo e estudando, porque aprender e estudar constantemente preenche essas lacunas. Saber o que não se sabe, enxergar essa lacuna e buscar mais informações é o que os motiva. A motivação é um elemento crucial no processo de aprendizagem, pois ela impulsiona a busca por conhecimento e a superação de desafios. Uma baixa curiosidade, por outro lado, prejudica o aprendizado, pois não há o desejo de preencher as lacunas existentes. A motivação age como um combustível, alimentando a nossa vontade de aprender e nos mantendo engajados no processo.
Um alerta muito importante: para você que está dedicando seu tempo para ler esta carta até aqui, eu GENUINAMENTE não gostaria que você se sentisse frustrado e desistisse no meio do caminho. Acredito profundamente no impacto que esses conhecimentos podem ter na sua vida e no seu potencial de desenvolver habilidades incríveis. Por isso, quero compartilhar meus aprendizados, minhas empolgações, minhas motivações e minha visão sobre a tecnologia com você, mas, se você inicia algo, coloca muito esforço e não obtém a recompensa esperada, é muito fácil se desmotivar, se frustrar e desistir. Entender todo esse processo é fundamental para manter os pés no chão, controlar as expectativas, buscar uma construção sólida e não esperar resultados apenas no curto prazo. E, durante essa jornada, é essencial lembrar desses conceitos e se manter motivado. Quando nos frustramos, é possível que a dopamina seja inibida, e isso pode nos deixar desanimados. A frustração, apesar de ser normal e até necessária em muitos momentos do processo, pode realmente afetar negativamente nossos níveis de dopamina.
Não é o "talento" que conduz essas pessoas ao sucesso, mas sim os motivos que elas têm para agir, as razões e os propósitos que as impulsionam a buscar mais, a ter muita curiosidade, a liberar dopamina e a serem hipermotivadas em preencher as lacunas de conhecimento. Todas essas pessoas podem ser alcançadas quando entendemos que precisamos, sim, de muito esforço e dedicação, mas que para manter isso, precisamos de informação, conhecimento, ter muita curiosidade, gerando motivação para descobrir, entender e praticar.
Boa sorte, amigo.
Atenciosamente,
Gabriel.
Deixa eu dar meus 2 cents vendo as pessoas entrarem na área em mais de 4 décadas e o que dá certo e o que não dá, sem papo de choach, sem toxicidade positiva, e espero que sem negativa também, mas como é uma verdade nua e crua, e dura, pode abalar alguns tipos de personalidade, ainda mais nos dias de hoje, e já vai um dica que boa parte, mas longe de ser todas, das pessoas entrando agora não tem mais a força que outros tinham no passado, o que pode ser bom, já explico.
O texto acima é bom e vai agradar muita gente, assim como vai ajudar um pouco também, eu vim dar uma outra visão, cada um pega as partes que quiser de cada texto, e eu sei que este não vai agradar tanto, até por ser um contraponto.
Não existe um gênio que nasceu abençoado que tem capacidade de ser 10x mais produtivo, e já houve uma discussão dessas há alguns anos, e cada um com seu viés deu sua opinião, e era fácil ver outras publicações da pessoa e via que ela estava em uma determinada bolha sócio-política bem fácil de identificar.
Existem pessoas que geram 10x, ou muito mais que isso, valor com o software que produzem, por uma série de circunstâncias. Em geral porque fazem algo criativo, difícil, complexo e toma decisões mais acertadas, fora o fato que a pessoa também pode, e frequentemente é uma pessoa com habilidades políticas acima da média. Meritocracia sempre leva em consideração todos esses pontos. Em alguns casos ajuda a sorte de estar em ambiente favorável, embora a sorte vem mais para pessoas preparadas do que para as outras. Cada lugar dará mais valor para uma dessas características.
Existem programadores que produzem 10x menos. Por uma série de razões e a IA pode ajudar ou piorar isso, ou manter mais ou menos igual, claro. Geralmente são os programadores menos qualificados. E eles são assim por muitas razões, pode ser que ela não tenha experiência suficiente, ainda, não tenha aproveitado bem suas experencias, não tenha uma boa formação de programador, obrigado a ficar fazendo CRUDs e outras coisa simples, ou que não teve uma formação básica adequada que dificulta tudo na vida, que faça tomar muitas decisões erradas não só na esfera profissional, pode ser pela forma como foi criado, inclusive o fato da pessoa viver em muita dificuldade que forja algumas pessoas mais fortes e outras mais fracas, é aquela coisa, a água quente endurece o ovo e amolece o macarrão. E pasmem, algumas pessoas são assim porque nasceram com essa disposição e podem ter maiores ou menores chances de mudar isso.
Em geral as pessoas querem vender que todo mundo é igual, que ninguém é melhor que ninguém, mas isso é uma fantasia poética maravilhosa que não se sustenta e até prejudica algumas pessoas que acreditam que é tão lindo. Mais uma vez, a mesma ação vai ajudar algumas pessoas e prejudicar outras, cada um entende a mensagem do jeito que consegue ou acha melhor.
Pessoas nascem diferentes, elas crescem de formas diferentes, e elas possuem diversos tipos de deficiência, especialmente as mentais que afetam o desempenho na programação, e muitas estão sendo adquiridas ao longo da vida, e tem estudos mostrando que nunca se teve tantos transtornos mentais, muitos psicológicos, fruto de ambiente de redes sociais e afins, e isso afeta o resultado que a pessoa entrega.
Assim como futebol, música, pintura, gastronomia, medicina, engenharias, teatro, e diversas outras áreas algumas pessoas conseguem fazer bem e o9utras não, algumas conseguem se profissionalizar e outras não, algumas vão ter ótimos empregos e outras vão ficar em subempregos, inclusive em algumas áreas há vestibular específico onde você tem que provar que tem habilidade para aquilo, é claro que programação exige certa habilidade também.
Mesmo que alguns não aceitem essa ideia, ser bom em matemática é fundamental para ir além de um empreguinho qualquer. E não é sobre saber todas as fórmulas e pegar as coisas mais avançadas, é o entendimento básico que a escola deveria dar na base e muitas vezes não dá, fazendo que a pessoa ter nascido com predisposição para algo seja mais importante ainda, o que eu repudio, isso deveria ser considerado um crime de lesa-humanidade. O mesmo vale para comunicação e expressão, que em algumas áreas é muito importante e em programação mais do que as pessoas acham. Quem não se deu bem com essas coisas, seja porque o cérebro não processa bem isso por diversas razões muito distintas entre si, seja porque a escola não ajudou, ou outros motivos, essa pessoa pode acabar sendo uma que é 10X menos que uma bem preparada.
Eu tenho como exemplos algumas pessoas que são muito mais que 10x o que eu sou. E tento aproveitar ao máximo para aprender com e ls, mesmo sabendo que eu já tenho batido no meu limite, até porque eu tenho minhas dificuldades que me impedem de ser o profissional que eu desejaria ser, mas ao mesmo tempo eu tive a facilidade natural e boa escola que me permitirem ser o que sou. Eu tenho isso muito claro, e não é uma observação minha apenas, vem de profissionais qualificados, eu não gosto de achismos.
Eu sou totalmente favorável que as pessoas não se acomodem e não coloquem certas pessoas em um pedestal, até me sinto mal quando alguém me coloca lá, ao mesmo tempo que fui aprendendo quando alguém tenta me colocar em um calabouço não me afetar como afetava no passado, tudo isso é um aprendizado diário. Mas eu sei que preciso ter parâmetros para seguir, caso contrário eu vou me acomodar.
Talento é um pouco superestimado, esforço costuma funcionar mais, mas nem sempre. E claro, que talento não pode ser subestimado, nem todo mundo será Pelé. Talento em qualquer nível ajuda muito, mas ele sozinho não produz nada útil, o "suor" ainda é muito necessário. Talento pode fazer a vida ficar mais fácil e dar mais alegrias.
Motivação é outra coisa que falta mesmo. E vejo muito discurso que a pessoa está motivada, mas não está de fato. E pode ser até por algum distúrbio mental. Ou pelo ambiente, pela criação, tem muitos fatores contribuintes. Fazer algo que a pessoa não quer fazer é horrível, tenho tentando não passar mais por isso.
Só o fato das pessoas enxergarem coisas irreais já mostra uma falta de talento para a programação, e diversas outras coisa. Também pode mostrar talento para outras coisas.
A comparação com outras deve ser feita, mas você tem que se preparar para isso. Por isso eu dependendo tanto que a escola dê uma formação forte em psicologia, sociologia e filosofia, além das duas disciplinas que eu já falei que serve para tudo, além de algumas ciências naturais. Eu sou de exatas, mas entendi que eu precisava estudar além do que é da área. A comparação tem que servir de incentivo, se você se comparar sem entendimento de como isso deve funcionar acabará se destruindo, e provavelmente colocará a culpa em outra pessoa.
Uma das coisas que mais aprendi em terapia é se responsabilizar. Não é se sentir culpado, é entender que tudo está em suas mãos para conseguir o que quer. Não quer dizer que conseguirá tudo o que deseja, mas entender isso também faz parte da responsabilização. A linha entre responsabilidade e culpa é tênue e poucas pessoas conseguem fazer isso por conta própria. Mais uma vez quem consegue é porque tem talento natural para isso. Hoje eu faço por conta própria por ter treinado bastante com supervisão e como muito estudo, não nasci com o dom. Muitas pessoas aprendem isso de forma mais natural, mesmo que não tão bem, outras nunca aprendem e vão sofrer muito.
Não é tão simples quando nos comparamos com os tais "gênios" que se fabricaram, da mesma forma que não podemos jogar pedras nas pessoas porque não sabemos as dificuldades que elas têm, não podemos glorificar as conquistas de quem se dá bem sem saber as facilidades que elas têm, também não podemos considerar que sempre elas conseguiram aquilo com facilidade. Elas podem ter se dedicado muito mais que você, ou podem ter tido sorte, de DNA, sim, de boa educação, de ter exposição com as pessoas certas, de ter tomado decisões intuitivamente quando a maioria não consegue. Conseguir todas essas facilidades que se obtém ao longo da vida faz parte do talento, até mesmo ter nascido na família certa. Assim como algumas pessoas desperdiçam isso, pode ser uma dádiva ou maldição.
Talvez a frase que mais gostei no texto acima é "examine os fatos com mais atenção e procure entender a história e o contexto completo da construção dessas pessoas" (destaque meu). Vale para todas as pessoas.
Sobre os enganos comuns:
- Cuidado com as coisas prontas que aprendemos sobre programação ou qualquer outra coisa. A ao mesmo tempo que pode encurtar caminho, pode fazer perder pontos importantes ou aprender com o erro de muitos. Está muito comum ter muita informação errada disponível. Por isso meu primeiro vídeo no canal que vou lançar será " A Péssima Prática de Seguir Boas Práticas" tanto mostrar como aprender com os outros sem se prejudicar.
- Experiência é fundamental e muito do que vemos é justamente fruto dela e não do talento. Nem todos enxergam bem isso e alguns desdenham disso, não é só glorificação dela.
- Disciplina, esforço, persistência, força de vontade, determinação, foco, realmente não são suficientes, depende de sorte, de talento, sim. Claro que precisa da motivação, mas ela é necessária justamente para ter essas coisas. A motivação sozinha não serve para muita coisa, ela deve servir para alcançar essas características citadas aqui para depois atingir o resultado esperado. Ainda não basta isso. E sem resultado a motivação dificilmente vem. Por isso que precisa fazer tudo certo, precisa da responsabilização.
Eu vejo cada mais as pessoas precisando de aprovação dos outros para se motivarem, isso é um erro enorme que sabota que faz.
Ao contrário do que os coaches vendem nem todos conseguem obter motivação, especialmente em algo que a pessoa não gosta, não tem talento, não consegue realizar bem e não alcança resultado. Novamente, achar que todos podem é achar que todos são iguais a você que não tem dificuldades nisso. O texto mostra acima que é algo que depende de mais do que a pessoa só querer aquilo, embora não conclui que da mesma forma que algumas pessoas não podem andar por conta própria, algumas pessoas não conseguem ter a motivação naturalmente, ou até que se motiva de forma errada.
A programação pode ser altamente recompensadora ou altamente frustrante. Depende do que, da pessoa, do momento. Algumas pessoas não querem resolver problemas, não tem talento para isso, frustrará e ela vai procurar atalhos, seja de IA, de pegar algo pronto, terceirizar para alguém que gosta, etc.
Nem sempre podemos seguir receitas de bolo para alcançar motivação ou outras questões que envolvem a mente.
E existem pessoas altamente motivação que atiram para todo lado e não conseguem resultado algum, e pode ser que ela nem tenha controle disso. A motivação não garante que você vá pelo caminho certo, só que você vá, às vezes mais rápido para o precipício.
Nem todo mundo se motiva com algo de longo prazo. Na verdade, parece que está ficando mais raro acontecer isso. Inclusive ter metas claras e críveis podem não ajudar um grande número de pessoas. Saber disso ajuda os demais.
Uma coisa que muita gente não entende é que precisa de conhecimento. Bom conhecimento, que pode ser até chato, mas é fundamental. As pessoas estão pulando isso cada vez mais e com a IA vai ficar pior.
Uma das coisas que eu sempre listei quando alguém me pergunta o que precisa ter para ser um bom programador é a curiosidade. E isso não deixa de ser um pouco de talento. E não sei o quanto isso pode ser construído pela pessoa. Talvez por algumas. Não quero falar muito justamente porque não estudei muito sobre isso, mas é uma observação clara pra mim. A curiosidade faz a pessoa ir aprendendo, buscando o melhor e criar algo que gere valor. Eu não tomo só por mim, todos os programadores bons que conheço tinham curiosidade, nem todos tinham as outras coisas, inclusive vi gente sem motivação se tornar boa, mesmo que tenha sido sofrido, e claro a pessoa tinha outras características (isso não prova nada, claro).
É claro que você pode ter apenas algumas dessas coisas e não todas, eventualmente apenas uma, mas você não será um excelente profissional, para isso precisa do talento, do conhecimento, da experiência, da motivação, e todos podem ser difíceis ou impossíveis de serem obtidos por todos.
Para quem tem dificuldades procure ajuda profissional, não adianta diquinhas de internet.
Quero agradecer ao autor, mesmo que tenhamos algumas discordâncias, é algo que contribui bastante para as pessoas.
Para ajudar alguns eu fiz isto: https://www.tabnews.com.br/maniero/faq-do-programador-perdidao.
S2
Farei algo que muitos pedem para aprender a programar corretamente, gratuitamente (não vendo nada, é retribuição na minha aposentadoria) (links aqui no perfil também).
Após alcançar um patamar na minha carreira profissional, eu me acomodei, não tinha mais a mesma motivação de continuar aprendendo e praticando além do trabalho, com isso o resultado não poderia ser diferente promovido a cliente
, o baque veio e no ínicio eu pensava que era só ter disciplina e pouco tempo depois já estaria realocado, mas a realidade não foi assim, até que esse ano eu coloquei como meta manter consistência nos estudos e me expor mais a tudo, ou seja, criei um motivo para agir, com isso fui atrás de como aprender, como ter disciplina e práticar mais.
Aprender exige persistência, e a motivação é a chave para manter essa continuidade.
Hoje em dia tenho motivo e sempre que me desanimo relembro o que me trouxe a dar ínicio a essa jornada, 2025 ta sendo um ano de muito aprendizado até agora e esse post é mais um.
Eu as vezes sinto que não tenho vocação pra programar, mas quando penso nos B.Os que resolvi(porque tive iniciativa), eu vejo que tenho que aprender a me respeitar e me entender melhor, ao invés de ficar me castigando/auto-punindo por não ser tão bom quanto outros por ai.
O Estudo Não Precisa Ser Sofrido Ninguém acorda com vontade de ler sobre ponteiros em C. Ninguém sonha em passar um sábado entendendo recursão. E tudo bem.
Estudar programação não precisa ser uma tortura nem uma maratona de sacrifício. Se você está sempre se sentindo frustrado, talvez o problema não seja você — mas o jeito que você está tentando aprender.
A real é: motivação nem sempre vem antes da ação. Muitas vezes, ela aparece depois que você começa. Tipo lavar a louça: o difícil é levantar. Depois, vai.
O segredo? Ritmo. Não intensidade.
Estude 30 minutos por dia, mas estude. Mesmo quando parecer que não tá entrando nada. Você está construindo um músculo invisível — e ele cresce no silêncio, no tédio, no dia em que nada parece fazer sentido.
E aos poucos, faz.